Gramado e Região das Hortênsias mais uma vez se deparam com a baixa taxa de ocupação da rede hoteleira e uma significativa diminuição do movimento de turistas. Dessa vez, pode-se claramente culpar o combo inflação alta, preços exorbitantes, passagens aéreas mais caras e problemas de acesso na BR-116 em Nova Petrópolis. Mas em novembro e dezembro do ano passado, considerados meses de altíssima temporada por causa do Natal Luz, houve um fator adicional: Gramado foi vítima de fake news.
Tudo começou quando as fortes chuvas no final de novembro colaboraram para o desabamento do edifício Residencial Condado Ana Carolina, situado numa área nobre da cidade. O prédio já estava condenado pelas autoridades competentes, apresentava graves problemas estruturais e, com o solo encharcado, acabou sucumbindo. O pior foi a boataria que se sucedeu depois: numa torrente de fake news, montagens toscas e áudios mentirosos, criou-se uma onda de terror nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp dizendo que Gramado inteira corria o risco de desabamentos porque o solo estava cedendo em toda a cidade, inclusive no centro.
Houve vários cancelamentos em hotéis e atrações, além de desistências: muitos trocaram o destino das férias de final de ano para um local “menos perigoso”. Esse é só um exemplo do estrago causado por notícias falsas e, pela distorção de fatos verdadeiros apenas pelo prazer de aumentar uma história e causar rebuliço. Parece a brincadeira do telefone sem fio, quando é quase impossível identificar onde exatamente o fato “um prédio condenado desabou em Gramado” virou a mentira “o centro de Gramado corre o risco de desabar”.
Esse tipo de publicação falsa tem de ser punida conforme estabelecido pela Constituição e as leis contra calúnia e difamação. Fosse eu o Secretário de Turismo de Gramado, passaria aquela semana fazendo print das mentiras que foram publicadas em rede social e processaria vários perfis para dar um recado: mentiras sobre a cidade não passarão.
Trago este caso para questionar a eficácia dessa mão pesada da censura prévia ou a tentativa de “regulamentar” as redes sociais com a desculpa de combater fake news. Nada é mais fascista, autoritário e antidemocrático do que calar indivíduos e plataformas antes mesmo que cometam um crime de calúnia e difamação. É como dispersar um grupo de pessoas conversando numa esquina para evitar tumultos que sequer aconteceram. Mentiu? Que se puna com o rigor da lei. Mas que não se impeça todo mundo de opinar e de se expressar livremente.
Nunca imaginei que conhecidos progressistas fossem usar as fake news como desculpa para defender qualquer tipo de censura prévia a fim de “proteger a democracia”. Só países totalitários controlam ou proíbem rede social, e isso só acontece porque neles já não há democracia alguma, nem justiça. Onde só um pode falar, ele fala o que quiser e o que interessar, nem sempre o que realmente é.