Desde que essa palhaçada de “influencer” começou, acredito que uma das melhores definições para esse delírio coletivo foi o seguinte comentário: “Ser influencer na internet é a mesma coisa que ser milionário no (jogo) Banco Imobiliário”. As redes sociais propiciaram o surgimento de gente irrelevante que se considera importante e influente só porque hoje é fácil o acesso a um meio de grande alcance. Fossem outros tempos, o critério dos três Cs — conteúdo, competência e consistência — jamais permitiria que esse bando de pseudo terapeutas, gurus, facilitadores, instrutores, palestrantes e consultores recebesse qualquer tipo de atenção. Jamais passariam pelo crivo de uma equipe de curadoria e teriam seu material publicado e divulgado por algum meio de comunicação respeitável.
Infelizmente, hoje basta um celular com câmera, microfone e filtros que qualquer um(a) se apresenta no Facebook, por exemplo, como um influenciador que pode transformar a vida de outras pessoas. Quem tem um mínimo senso crítico logo saca as falácias, o engodo, a ridícula autoimportância de quem não tem importância nenhuma. Por trás das fotos belíssimas e descoladas, dos discursos bonitinhos, exploram algo sagrado como a fé, por exemplo, para chamar a atenção oferecendo algum tipo de conforto inócuo para quem está angustiado. No vácuo das religiões organizadas, esse tipo de guia quase sempre é um(a) aproveitador(a) sem valores que explora a ingenuidade alheia adotando táticas de vendas como “solucionar a dor do cliente” em benefício — e lucro — próprio. Há influencers que mal conseguem lidar com suas próprias dores e problemas e querem ensinar os outros a buscar a felicidade e a paz. É muita empáfia! Pior: acabam prejudicando quem realmente tem boas intenções e fazem boas ações com o devido desprendimento.
Outro tipinho execrável nessa linha é aquele integrante da turma da “inovação”. Todo mundo agora é inovador, disruptivo, antenado, futurista. Aliás, há quem ganhou muito dinheiro com essa conversinha até ser confrontado por cientistas, engenheiros e teóricos de verdade e foi desmascarado e ridicularizado por aqueles que realmente criam o futuro. Falando todo mundo parece descolado, mas quantos realmente colocam a mão na massa e apresentam soluções e resultados concretos? Uma minoria ínfima. Na verdade, fico estarrecida quando vejo um profissional competente e que tem um conteúdo realmente autoral e inovador com menos visibilidade e conexões que uma garota de 20 e poucos anos que se apresenta no Instagram como “especialista”. Acho curioso que alguém que nunca construiu nada, que nunca liderou projeto algum, com zero experiência de vida consiga ter uma especialidade no que quer que seja.
A medida de sucesso e de relevância varia muito de pessoa para pessoa, mas acreditem: é melhor ser respeitado e manter a dignidade do que lucrar sendo hipócrita. Ali adiante, as máscaras caem, os pedestais viram ruínas e cada um será confrontado com suas próprias verdades.