Assisti nesta semana a um vídeo do especialista em transformação digital, Walter Longo, em que ele falava de uma aula sobre inteligência artificial. Enquanto apresentava uma das ferramentas de I.A., disse para a turma: “Você pode perguntar o que quiser à plataforma, todo o conhecimento do mundo está ao seu alcance. O que gostaria de perguntar?”. Então um jovem metido a engraçadinho levantou o braço e disse: “O Palmeiras tem mundial?”. Indignado — e com toda razão —, Longo conta que teve vontade de encerrar a aula e ir embora, “porque não adianta nada querer dar pérolas aos porcos”.
O cerne da questão está bem ali: no conforto de nossas mesinhas e escritórios em frente a um computador, em quase todas as áreas de atuação, só sobreviverão os profissionais que tenham a capacidade de imaginar, perguntar, criar, selecionar e escrever comandos para a máquina e depois filtrar, editar e aperfeiçoar o que sair dela. Um abobado que no meio de uma aula importantíssima faz uma pergunta totalmente idiota só para fazer gracinha certamente é incapaz de lidar com os avanços da inteligência artificial em toda sua magnitude.
Vivemos um momento único de redefinição dos papeis e da importância de cada um de nós, seres humanos, nas relações de trabalho, geração de riqueza, progresso e desenvolvimento. Como Longo explica, a humanidade hoje tem a oportunidade de investigar e de se aprofundar no que quiser, mas falta vontade e curiosidade para isso. Falta principalmente o que ele chama de “conhecimento embarcado”, um termo emprestado da informática que se refere às informações prévias que são incorporadas diretamente em um sistema, dispositivo ou software, permitindo que ele execute determinadas tarefas ou tome decisões com base nesse conhecimento pré-existente.
Infelizmente, temos uma geração inteira que desprezou a importância do conhecimento embarcado, ou seja, da curiosidade, da pesquisa, da investigação, do questionamento porque “tudo estava no Google”. Sim, realmente o Google, como o próprio Walter Longo afirma, é nossa Biblioteca de Alexandria moderna. A juventude hoje literalmente tem algo muito maior e mais vasto que a Biblioteca de Alexandria dentro do seu smartphone, mas prefere perder tempo com fofocas de celebridades, pautando suas vidas de acordo com “influenciadores”, bancando o ativista de boutique da causa do momento sem conhecimento algum da realidade (creiam, há guri de apartamento que defende a Coreia do Norte como o melhor lugar para se viver no mundo).
Quem tem certezas hoje quanto ao futuro ou é metido a messias ou é apenas um tolo. As dúvidas são muitas. Mas tudo realmente parece apontar que há uma parcela significativa da população que já ficou para trás porque não aproveitou o universo de conhecimento disponível para desenvolver seu intelecto antes da popularização da I.A. Agora é tarde demais.