O gênero True Crime – Crimes Reais é um dos mais populares hoje em podcasts, documentários e livros no Brasil. Investigadores e peritos são convidados para participar de programas de entrevistas com milhares de visualizações. Casos famosos como o assassinato da menina Isabela Nardoni e da atriz Daniela Perez são esmiuçados à exaustão. Psiquiatras como Ana Maria Barbosa e peritas criminais como Ilana Casoy hoje são celebridades. Por que as pessoas consomem tanto esse tipo de conteúdo?
Tenho lá minha teoria: uma das maiores e mais angustiantes questões filosóficas da história da humanidade é se perguntar por que coisas ruins acontecem com gente boa. A mais drástica delas é perder a vida por uma banalidade, quando pequenas imoralidades repetidas e quase imperceptíveis do dia a dia vão escalando até se tornarem uma brutal amoralidade, ou seja, a total e completa ausência de valores éticos e respeito pelos outros seres humanos.
Nesta última semana, dois casos da página policial aqui do Rio Grande do Sul deixaram nós, gaúchos, chocados. Primeiro, o caso em Alegrete da enfermeira Priscila Ferreira Leonardi que ficou desaparecida do dia 19 de junho até 6 de julho, quando seu corpo foi encontrado boiando no Rio Ibirapuitã. Ao que parece, o motivo do crime tem a ver com uma cobrança de herança envolvendo familiares da Priscila. Nas últimas mensagens, comentou com uma amiga como as negociações estavam difíceis com esses familiares, o que levantou suspeitas por parte da polícia, que ainda investiga o caso.
O segundo crime aconteceu em Gramado: a motociclista Patrícia Aguiar Cabral, 40 anos, morreu na madrugada de sábado após uma colisão. A família suspeitou das circunstâncias e não acreditava que havia sido apenas uma queda. Resultado: investigaram por conta própria a cena do acidente e encontraram destroços de um carro misturados aos destroços da moto no local. Agora se sabe que uma garota de Três Coroas tinha ido a Canela assistir a um show, bebeu e saiu dirigindo, e provavelmente tenha sido a responsável pela colisão que vitimou Patrícia. Fugiu do local sem prestar auxílio e escondeu o carro batido com a ajuda de um amigo. O carro foi encontrado pela polícia que agora, diante de novas evidências, vai reabrir o caso.
A perversidade e a irresponsabilidade de quem aparentemente cometeu os crimes relatados acima choca qualquer pessoa que tenha moral sólida e respeito pelos direitos humanos. Mas se percebe que os indícios de maldade estavam todos ali o tempo todo: um primo que se apropriou do que não era dele (no caso, a herança do pai da enfermeira assassinada em Alegrete), uma motorista que saiu dirigindo alcoolizada assumindo o risco de matar (no caso da motociclista de Gramado).
Quem é bom supõe que todo mundo seja bom também. Infelizmente, o mundo não é assim. Tenhamos bondade, mas não sejamos ingênuos. Fiquemos atentos: está cheio de gente ruim por aí. O mal não se explica: se evita ou se combate.