Na região em que temos vinícolas centenárias, em que a cultura do vinho foi incentivada pela colonização italiana, um projeto mais recente no pequeno município de Muitos Capões, nos Campos de Cima da Serra, vem chamando a atenção por se identificar pela cultura portuguesa, das castas de uvas plantadas às construções inspiradas em uma vila açoriana.
Mas antes de ser uma vinícola, a área era uma fazenda. Com a agropecuária na região dos Campos de Cima da Serra dando cada vez mais espaço para o cultivo de grãos, o proprietário, Agamenon Lemos de Almeida, juntamente com a filha Bibiana Lemos de Almeida, não foi inovador somente em apostar na criação de um empreendimento pioneiro em explorar as características açorianas no Brasil. Eles também quiseram apostar no cultivo de uvas que são poucos difundidas na Serra. É na região da Campanha que as castas portuguesas ganham mais força nos últimos anos.
De 12 hectares e oito variedades plantadas, mais da metade é para uvas de origem ibérica. Na Lemos de Almeida, há cultivo de variedade brancas de Alvarinho e Verdellho, e tintas, como Touriga Nacional e Tinta Roriz. Inclusive, o vinho fino tinto seco jovem de Tinta Roriz, da linha Família Lemos de Almeida, foi destaque da Avaliação Nacional de Vinhos de 2022.
A vinícola também tem castas francesas tradicionais, como as brancas Chardonnay e Sauvignon Blanc, além de Merlot e Pinot Noir. Mas como só elabora vinhos e espumantes com o que é produzido nos vinhedos próprios, a produção é de 100 mil garrafas por ano e não há previsão de expansão.
Enóloga é tataraneta de Ana Rech
Embora a vinícola seja portuguesa e tenha no comando os descendentes deste país, os enólogos trazem a característica italiana que marca a produção vitivinícola na Serra. Na visitação da Lemos de Almeida, há na cave subterrânea e em outros pontos externos da propriedade painéis em azulejo português com os sobrenomes das famílias de açorianos que desembarcaram nesta região do país. Mas um outro sobrenome chamou a atenção desta colunista, que foi o da enóloga Priscila Rech que, junto com Delto Garibaldi também conhecido pelo Laboratório Lavin de Flores da Cunha, trabalham na elaboração dos vinhos. Depois que mencionei que o sobrenome Rech é muito comum em Caxias do Sul, Priscila confessou: sou tataraneta de Ana Rech. Apesar do grau de parentesco com a imigrante italiana que dá nome a uma das regiões mais conhecidas de Caxias, Priscila é natural de Campestre da Serra, município vizinho a Muitos Capões. Além de trabalhar na elaboração dos vinhos, também atua no varejo de Vacaria.
Novo centro de eventos inaugura em fevereiro
Se a intenção é manter o volume de produção, até por apostar em microvinificações, de 125, 250 e 500 litros, para pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, o que deve crescer na Lemos de Almeida é o número de atrações na propriedade focada no enoturismo. Hoje, o destaque é para o próprio prédio da unidade de produção da vinícola que é uma réplica da Casa da Alfândega de Florianópolis (SC). Mas a área ainda conta com a réplica do Monumento aos Açores de Porto Alegre, que representa a chegada dos primeiros 60 casais açorianos que povoaram a cidade. A capela é uma réplica da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, de Florianópolis. A casa da família Lemos de Almeida representa onde Anita Garibaldi habitou em Laguna (SC) no século XVIII. E a propriedade ainda tem moinho de vento, que conta com um varejo dentro, farol e outros elementos que caracterizam a cultura portuguesa. Em breve, mais uma casa em estilo colonial será inaugurada.
Neste início de ano, outra frente para ampliar a visitação neste empreendimento será aberta. Em fevereiro, será inaugurado o centro de eventos com capacidade para 80 pessoas. Hoje, na região dos Campos de Cima da Serra, somente a Campestre tem tal estrutura.
A Lemos de Almeida não é visitada apenas por amantes de vinhos. A vinícola promove um projeto voltado à educação. Para difundir a cultura açoriana entre os jovens, o próprio diretor da Vinícola, Agamenon Lemos de Almeida, palestra nas escolas e aborda a imigração açoriana e sua importância.
