Que a Serra Gaúcha é a maior produtora de vinhos do Brasil todo mundo sabe. Que os vinhos de mesa concentram o maior volume comercializado também. O que, talvez, nem todos tenham conhecimento é que uma vinícola sozinha acumula o título, há oito anos, de ser a que mais vende vinhos de mesa no país, inclusive ultrapassando as grandes cooperativas da Serra que processam a uva de milhares de produtores da região. A vinícola em questão é a Campestre, que está próxima de atingir a marca de 40 milhões de litros/ano.
Para se ter uma ideia do volume de vinhos que é comercializado, imagine três linhas de engarrafamento operando ao mesmo tempo nas quatro estações do ano. São 200 mil garrafas que vão para a expedição todos os dias. A quantidade de vinhos de mesa da linha Pérgola, engarrafados em um dia, equivale ao que vinícolas já consideradas de médio porte engarrafam em um ano. Inclusive, é a mesma média de vinhos finos que a Zanotto, também da vinícola Campestre, elabora em um ano.
João Zanotto é quem administra a companhia, fundada em 1968. Seu pai era associado da então cooperativa. E o filho deu continuidade aos negócios da família. A grande escalada nos negócios ocorreu a partir da década de 1990. Hoje são 800 famílias que fornecem uva. E, apesar do grande volume comercializado, a Campestre não vende um garrafão, sequer, de cinco litros. São todos de um litro. Mas não é só na garrafa que os vinhos de mesa se parecem com os finos:
— Nosso vinho de mesa é feito como o vinho fino. Se não tem uva boa, não tem vinho bom. Há 20 anos começamos um trabalho com agricultores para qualificar a produção, compramos equipamentos de vinhos finos. Se o paladar brasileiro é para esse vinho de mesa, pensamos: vamos fazer o melhor possível. E foi aí que a gente se destacou — conta Zanotto.
Inclusive, o dono da Pérgola destaca que o vinho de mesa é vendido a preço de vinho fino por conta destes investimentos. O principal mercado hoje é o da região Sudeste, com Minas Gerais liderando. Tanto que a vinícola planeja intensificar as ações voltadas para o mercado mais próximo, que é o próprio Estado, Santa Catarina e Paraná.
— O consumidor de vinhos de mesa é fiel, não muda de marca. Se mudamos uma vírgula, o cliente liga. Já o consumidor de vinho fino sempre quer conhecer novidades e tomam todas as marcas. Temos espaço para crescer,temos que ir atrás de novos potenciais consumidores — compara Zanotto.
É o que a vinícola vem fazendo...
Maiores investimentos em vinhos finos e enoturismo
Com o mercado de vinhos de mesa no Brasil praticamente estável nos últimos anos, mas com os vinhos finos em crescimento, principalmente após a pandemia, a vinícola Campestre tem apostado cada vez mais em ampliar o mercado em ascensão.
Hoje já tem cerca de 10 variedades viníferas cultivadas em sua nova área em Vacaria. O projeto de vinhos finos começou há cerca de quatro anos, com os primeiros lançamentos no mercado após a inauguração do complexo enoturístico onde, no passado, já funcionou um frigorífico.
— Lembro de quando fui a Montevideo em um shopping. Se lá tinham transformado o que era um antigo presídio em um shopping, acreditei que poderia fazer isso aqui também — lembra.
Zanotto observa também o comportamento do “bebedor” de vinho para corroborar o planejamento estratégico que prevê 15 anos para atingir o auge da produção em vinhos finos.
E alguns produtos já estão atraindo o público que está sempre de olho em novidades. Além de castas que já se destacam na região, como Sauvignon Blanc e Pinot Noir, as italianas que gostam de altitude estão sendo buscadas. O Sangiovese da Zanotto de 2020, medalha de ouro no Decanter World Wine Awards, já quase não se encontra mais no mercado. A Campestre já tem vinhedos de outra variedade clássica italiana, a Montelpuciano, mas elas ainda não começaram a produzir.
Estas especificidades dos Campos de Cima da Serra não são atrativas somente na garrafa. A vinícola fez um grande investimento no enoturismo nos últimos anos e está expandindo seus atrativos. São 23 mil metros quadrados de área construída, incluindo uma cave subterrânea com túnel em esculturas de pedra sobre a imigração italiana. Nos jardins da vinícola, uma igreja construída de pedras chama a atenção, assim como todo receptivo que precisa de auxílio de um veículo para percorrer a propriedade.