Rafael Cheruti, 31 anos, é o sommelier caxiense classificado para o campeonato que premia os melhores profissionais do setor no mundo. Ele garantiu o lugar no Mundial de Sommeliers de Cervejas após ficar no top 10 do Brasil.
A final do 6º Campeonato Brasileiro de Sommeliers foi em maio em São Paulo. Cheruti é entusiasta da bebida desde 2012, mas foi em 2017 que começou a se especializar. Além do curso de sommelier, agregou ao seu currículo os títulos de mestre em estilos de cervejas, especialista em análise sensorial e off flavors (falhas ou defeitos na cerveja) e ainda de tecnólogo cervejeiro.
Cheruti colabora fortemente com a indústria cervejeira de Caxias do Sul, que já é a quarta maior cidade do Brasil em número de fabricantes. Ele é o único representante da Serra no concurso. A final do mundial será em Munique, na Alemanha, nos dias 10 e 11 de setembro, e vai reunir 100 sommeliers de cerveja de 24 países, com organização da Doemens Academy.
Como enveredou para o mundo das cervejas?
Eu trabalhei 10 anos com logística. Fiz faculdade nessa área. No momento em que estava um pouco cansado do que eu fazia e queria algo diferente, comecei a pensar em algumas opções, e a primeira que me apareceu foi no ramo da cerveja, que era algo que eu gostava muito. Fiz o curso de sommelier de cervejas e, durante o curso, conheci os proprietários de uma cervejaria e aí entrei nesse mundo, atuando inicialmente na parte comercial.
Como foi a migração do comercial à parte sensorial?
Foi em função dos cursos. A curiosidade é sempre muito importante nesta área. É preciso degustar muitos rótulos e, principalmente, gostar de falar sobre o assunto para instigar e ensinar as pessoas sobre o tema.
Em que cervejarias já atuou?
Eu iniciei na Cervejaria Ordeo, de 2018 até 2022. E atualmente trabalho na La Birra, também de Caxias, onde atuo nas áreas de marketing, comercial e de sommelier. Também sou professor da Escola de Gastronomia Sal a Gosto e trabalho com eventos particulares meus de harmonização de cervejas, e tudo que envolve treinamentos.
Como é o dia a dia do teu trabalho?
Na criação de estilos, a gente acaba participando com parâmetros que acha interessantes em cervejas novas. Trabalho na validação de lotes das cervejas em bares. Como temos as unidades da marca, faço toda a questão de treinamentos de equipes, de serviço, de compartilhar conhecimentos técnicos que possam ser levados aos clientes.
Tem muita gente se especializando em várias bebidas. Como obteve esta diferenciação a ponto de ser reconhecido entre os melhores?
A gente sempre brinca, na questão de um sommelier, que uma das coisas mais importantes é o que a gente chama de hora do copo. A gente tem de degustar muitos rótulos diferentes. E tem que prestar muita atenção em todo o perfil sensorial das cervejas, na comparação entre estilos parecidos, na parte teórica, porque tudo isso é muito importante para a gente criar uma bagagem sensorial e referências. O estudo constante é essencial. O dia a dia dentro de cervejaria ajuda bastante nisso. A soma de tudo isso, toda a questão de dar aula, de falar sobre cerveja para as pessoas, também faz com que a gente aprenda muito.
Como está a preparação para o concurso?
Faltam mais ou menos três meses, e a preparação é basicamente a mesma que fiz para o Brasileiro, é degustação de muitos rótulos, entender diferenças entre estilos de cerveja semelhantes. Revisar toda a parte teórica e histórica envolvida nos estilos é importante. Até mesmo questões de tributação podem entrar. Tem bastante literatura envolvida também...
A vida de sommelier tem desafios, certo?
Esse é um ponto interessante, porque muitas pessoas imaginam que a cerveja é só festa. De fato, ela é entretenimento, mas para as pessoas que não trabalham com ela. Obviamente, a gente tem os nossos momentos de descontração, mas estamos falando de uma indústria de alimentos que requer sérios cuidados, estudo e aprofundamento constante. É um meio divertido de se trabalhar, eu sou muito grato e feliz por trabalhar com o que gosto, mas exige muita seriedade e comprometimento das pessoas. Nesse processo todo de estudo, tem que criar uma bagagem sensorial de referências, e não é tão simples. Não é só beber cerveja, tem que experimentar outras bebidas, alimentos diferentes para poder identificá-los nas cervejas.
O mercado está reconhecendo todo esse esforço dos profissionais que buscam especialização na área?
De alguns anos para cá, este mercado de cervejas em que atuo tem tomado uma fatia importante do todo. As pessoas têm experimentado mais as cervejas diferentes, com características sensoriais mais importantes. Nosso crescimento ainda é tímido se comparado a outros países por causas de questões como carga tributária, falta de profissionalização, pandemia e crise econômica. As grandes marcas de cervejarias também começaram a perceber o interesse por cervejas premium.
E como é ser profissional da área neste polo da Serra?
É desafiador porque estamos inseridos em uma região que é forte no setor do vinho. Quando a gente fala de sommelier, todo mundo pensa que é voltado para o vinho. Também tem a questão climática, pois, no inverno, as pessoas acabam migrando para bebidas mais “quentes”. Mas o nosso trabalho é tentar fomentar cada vez mais a cultura cervejeira, explicar para as pessoas que temos diversos estilos que podem se adequar a qualquer ocasião, para qualquer clima, inclusive participar de uma maneira muito interessante em contextos gastronômicos, que é um diferencial para a gente colocar a cerveja cada vez mais na vida das pessoas.