Apesar das dificuldades de uma safra com estiagem, e do calor intenso para os produtores da Serra trabalharem debaixo dos parreirais com pouca circulação de ar, a expectativa é de que os esforços sejam compensados. Pelo menos é o que apontam os resultados sobre a qualidade das primeiras frutas colhidas. Já em termos de quantidade, se confirma a previsão de uma safra com volume menor.
De acordo com o agrônomo Mauro Celso Zanus, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, sediada em Bento Gonçalves, em geral, as videiras têm uma tolerância maior que outros plantios em período de restrições por ser uma cultura perene, ter sistema de raízes mais profundas. Mas, a estiagem deste ano foi mais forte.
Em anos de clima seco, foram colhidas as melhores safras da Serra em termos de qualidade. Neste ano, em pontos onde a chuva conseguiu chegar ou havia algum tipo de irrigação, em vinhedos conduzidos em sistema de espaldeira, a qualidade da safra ficou superior aos anos normais em que a colheita da Serra é caracterizada por muita umidade. Mesmo acima da média, Zanus destaca que dificilmente a colheita deste ano se compare a de 2020, considerada a safra das safras, justamente pela estiagem ter sido mais intensa.
A qualidade pode ser traduzida em grau de maturação maior, ou seja, em doçura das uvas.
— Com cerca de um quarto da safra colhido, temos verificado uma graduação de açúcar bastante significativa, maior que em outros anos. E, com este clima seco, não temos doenças e outros problemas como a podridão — destaca o especialista da Embrapa.
Mas a qualidade de uma safra não é resultado apenas do teor de açúcares da uva. Acidez é outro elemento fundamental para garantir produtos equilibrados. Com a falta de água nas plantas, havia um temor de que a acidez ficasse muito elevada, mas foi aí que o calor acima da média, do mês de janeiro, cumpriu um papel importante.
— Como a acidez ficou mais concentrada, as noites quentes favoreceram o metabolismo dos ácidos, como o málico que sofre degradação com calor — explica o técnico.
Se a qualidade está surpreendendo até o momento, a redução de quantidade da safra vem se confirmando, não só pelas perdas em propriedades mais atingidas pela seca, mas também naquelas que estão colhendo as uvas com qualidade. Elas estão com açúcar mais concentrado justamente por estarem com bagas menores. Com a redução do peso dos cachos, o impacto no rendimento industrial para elaboração de vinhos, sucos e espumantes é algo com que o mercado terá de lidar na safra 2022.