Uma empresa de Bento Gonçalves protagonizou uma das maiores negociações de venda vistas neste ano na Serra. O Bling, sistema de gestão online para pequenas e médias empresas, foi comprado pela Locaweb por R$ 524,3 milhões.
Natural de Bento, Marcelo Navarini, 42 anos, segue atuando na empresa como COO. Com especialização em Finanças e mestrado em Economia, Navarini começou a sua trajetória profissional no mercado financeiro. Posteriormente, passou a atuar com capital de risco. A seguir, Navarini detalha a trajetória no Bling e os planos de expansão no pós-aquisição:
Como se iniciou a tua atuação no Bling?
Ingressei no Bling há dois anos e meio. Sou natural de Bento Gonçalves, mas já estava há 10 anos em Porto Alegre, onde trabalhei na empresa de capital de risco CRP Companhia de Participações, uma gestora de fundos de Venture Capital e Private Equity. E aí recebi o convite do fundo investidor do Bling para ser um dos executivos da operação, como diretor financeiro. Quando aceitei o convite de voltar, tomei uma decisão que, na época pré-pandemia, necessitava que eu me mudasse. Embora a empresa já estivesse com algumas pessoas trabalhando remoto, a avaliação era que eu precisava estar 100% no escritório. Já hoje a gente poderia estar em qualquer outro lugar.
Como foi a negociação para vender a empresa para a Locaweb?
Eu que venho do mundo dos investimentos, seis anos do outro lado do balcão, o dos investidores, vejo que essa transação gerou impacto porque foi uma operação de uma empresa não tanto no radar. Pela nossa curva de crescimento, a gente tinha muitas alternativas estratégicas. Há algum tempo vínhamos recebendo sondagem, natural no mundo dos negócios, seja para investimentos, seja para a venda. A conversa com a Locaweb começou na virada do ano. Foi aí que os acionistas começaram a evolui para trabalhar em conjunto, ter a visão do ecossistema que a Locaweb estava criando. Isso evoluiu em três meses para a fazer o negócio.
E chama a atenção que a direção do Bling permanece mesmo após a venda.
Eu tenho um papel de executivo da empresa, mas os sócios também ficam. O ponto de vista de entender o modelo que a Locaweb está estruturando passa por aquisição de empresas complementares dentro da jornada do micro e pequeno empresário. Tem várias empresas que ela adquiriu nos últimos 18 meses, e esse modelo tem a premissa importante da permanência das pessoas-chaves nos negócios, além de todo o time, porque se entende que são as pessoas que conhecem, que estão no dia a dia. Naturalmente, não quer dizer que os sócios vão permanecer para sempre. Mas, por um período razoável, existe a permanência do Antonio Nodari, CEO e fundador, e dos sócios.
Nesta semana que passou, tivemos a finalização do processo de aquisição. O que muda a partir de agora?
A essência do Bling permanece a mesma. É uma plataforma que procura entregar valor para o micro e pequeno, uma solução que ajude, automatize, gerencie seu negócio, o dia a dia. Na prática, vamos ter um crescimento mais acelerado, e vamos contar com um apoio de retaguarda mais estruturado. O fato de sermos uma plataforma aberta, que se conecta com outras ferramentas, permanece. Tem uma orientação de estarem conectadas entre as empresas do mesmo grupo, mas não só com elas. O compromisso é o sistema se manter aberto, uma plataforma integrada com outros sistemas complementares.
Quanto a empresa cresceu desde a fundação e quanto está projetando para os próximos anos?
O Antonio (Nodari, o fundador) já atuava no mercado de tecnologia há bastante tempo. Lá em 1990, fazia trabalhos de desenvolvimento de softwares. Ele começou a entender que podia desenvolver uma solução leve, simplificada, que não exigisse grandes investimentos, porque, na época, um sistema de gestão era só para grandes empresas. A empresa surgiu no início dos anos 2000 simplificada, mas foi em 2008 que surgiu a marca Bling. O escopo era bem mais restrito. Nesses últimos 15 anos, o produto evoluiu para uma plataforma com várias funcionalidades. Entre 2008 e 2013, foram quatro anos para alcançar os primeiros mil clientes. A partir daí, começou a se acelerar quando implantou um modelo em que o cliente usa, se inscreve e depois decide se vai ou não continuar. Além de ser um sistema de gestão, é um hub que conecta com canais de venda. Talvez tenhamos sido um dos pioneiros a levar isso para o cliente de uma forma muito fácil. Além de gerenciar a empresa, com cadastros de clientes, estoques, catálogos de produtos, contas a pagar e receber, ajuda o cliente a se conectar com canais de venda, como a Amazon, Magalu, Mercado Livre. Isso, em 2014 e 2015, gerou um incremento muito grande. Lá a gente já tinha chegado na faixa de 10 mil usuários. Hoje são mais de 50 mil clientes pagantes. O nosso objetivo é que eles permaneçam por muito tempo conosco.Os números mostram que estamos conseguindo fazer isso.
Quais os planos de expansão a partir da venda?
A Locaweb já fez algumas aquisições no Rio Grande do Sul. Fazendo parte de um grupo com capital aberto na bolsa, com várias empresas no portfólio, e sendo a maior aquisição da Locaweb, que adquiriu 10 empresas desde o IPO, o Bling tem tudo para fortalecer um hub de tecnologia no Estado. Estamos ampliando o time. Já estamos fazendo contratações, temos muitas pessoas com residências na Região Metropolitana e até de fora do Estado. Muitas contratações são totalmente remotas. Saímos de em torno de 80 pessoas em março para 205. A pandemia nos provocou um impacto de procura, quase como um tsunami, porque as empresas, que não tinham presença no online, precisavam criar esses canais de venda para sobreviver. Tiveram que fazer quase que de forma compulsória. Antes era uma opção. Mas, quando começou a fechar o comércio, isso gerou um movimento muito grande, e empresas do segmento foram impactadas positivamente no sentido de demanda.