Eduardo D’Agostini Martins, 40 anos, presidente do Sindipetro Serra Gaúcha, começou pelo ramo da construção civil. Há mais de 20 anos, mantém a NEOincorp. Mas de cliente de um posto de combustível, no bairro São José, acabou virando o dono do Petrotech em 2005. Começou como sócio e se envolveu diretamente na operação em 2017.
Logo depois, entrou também na vida sindical. Acabou assumindo a presidência da entidade em 2018, uma semana antes da greve dos caminhoneiros, até então o momento mais crítico vivido pelo setor. Em 2020, viria a pandemia.
Superados os desafios, confira na entrevista a seguir o que mais marcou o setor de combustíveis em 2020 e o que esperar para 2021.
Como foi a pandemia para o setor?
A gente teve um baque no começo da pandemia. Pela nossa atividade, não fechamos, mas a cidade ficou praticamente vazia por três semanas. O sindicato foi muito importante auxiliando muitos revendedores que até acabaram se associando depois. Tivemos um alento com a MP (medida provisória) 936 para suspensão de contratos de trabalho, porque até para demitir precisa de muito dinheiro. No mês de maio, começou a melhorar, com um fluxo de 70%, mas trabalhamos com margens muito pequenas, e não se pode perder 30% de volume, que aí o nosso negócio não para em pé. A partir da metade do ano, foi normalizando, mas tem uns 10%, que é o pessoal de home office, ou que não voltou ao trabalho, ou deixou de fazer viagem, que não normalizou até agora.
E qual a tendência de consumo neste sentido?
O combustível tem um histórico, um ápice de consumo em 2014. Depois teve a crise econômica que, consequentemente, baixou o consumo. Melhorou em 2019. Se esperava muito de 2020, mas ficou um pouco abaixo de 2019. Nosso setor é espelho da economia. Quando ela vai bem, a venda também. Mas a gente vê hoje muitas famílias com um só veículo, ou carro e moto, que consomem menos, porque o transporte hoje é o maior custo de uma família. O pessoal de transporte escolar e de funcionários sofreu muito, mas tem empresas que não pararam, que continuaram abastecendo, recebendo diesel na mesma proporção que antes, assim como setores que conseguiram aumentar o consumo.
Com relação ao comportamento, principalmente em lojas conveniências, qual o impacto?
As conveniências estão sofrendo até hoje. A fiscalização entende que decretos proíbem mesas e cadeiras, o que é um grande erro. A aglomeração ocorre na parte externa. É isso que tem de ser combatido, porque na parte interna o dono do posto consegue controlar. Clientes deixaram de tomar café no posto por isso. Qual a diferença de estar em uma padaria? É algo que pretendemos trabalhar neste ano. Porque a loja de conveniência é o que salva muitos postos.
E o preço dos combustíveis como deve ficar?
A gente teve um ano extraordinário no sentido de fora do comum. A gente chegou a ter cotação de petróleo negativa no mercado internacional. Mas, entre janeiro de 2020 e 2021, temos praticamente o mesmo preço na refinaria. Praticamente voltou a patamares pré-pandemia. O que interfere no nosso preço é a cotação do dólar e do petróleo. No início do ano passado, a gente tinha o dólar mais barato e o petróleo mais caro. Depois o petróleo baixou e o dólar subiu. Qual o problema que vemos para 2021? O petróleo, com a tendência pelo consumo mundial aumentando, com a vacina, é da cotação subir. E aí a Petrobras não vai fugir do aumento. Com a economia voltando, a gente gostaria que o preço se mantivesse. Mas as notícias estão mostrando o aumento do preço dos barris. E acaba tendo pressão em todos os combustíveis. É difícil falar em previsão de preço porque qualquer conflito, variação de vírus ou notícia nova já muda tudo. Nós, como revendedor, torcemos para não ficar caro, porque aí o consumo diminui.
Além dos preços, o que mais 2021 nos reserva?
O setor todo vive a expectativa da privatização das refinarias. Praticamente metade delas será privatizada. Era para ser em 2020, e foi empurrada para 2021. Isso vai balançar o mercado, porque hoje as refinarias estão na mão da Petrobras. Tem uma fatia de produtos importados que não representa muito no todo. Com a iniciativa privada, se espera bilhões de investimentos. As refinarias mais novas têm 40 anos. Ao mesmo tempo, tem que cuidar para não virar oligopólio de poucas empresas. Eu estou no mercado há 16 anos e talvez essa será a maior mudança do período. Na questão do consumo, a tendência é oferecer outros produtos, além do combustível. Lojas equipadas, mais serviços, franquias para agregar mais produtos... Vai do dono ficar atento às novidades e investir para o cliente também enxergar valor e não só preço, o que é importante para qualquer empresário.