A greve que paralisou o país deixou de ser dos caminhoneiros. Desde segunda-feira passada, quando começou, passou a conquistar a simpatia de parte da sociedade e, dia após dia, ganhou a adesão de outras alas, como de agricultores, taxistas e condutores de vans escolares.
A bandeira contra o preço abusivo do diesel e da falta de garantia aos caminhoneiros foi reforçada pelo grito contra o aumento sucessivo da gasolina, a pesada carga de impostos e a corrupção que compromete a viabilidade de serviços básicos ao brasileiro.
Sem uma coordenação clara e com a incapacidade e a demora do governo federal em passar credibilidade nas negociações, o movimento foi evidenciando sua força no mesmo ritmo em que os estoques de combustíveis e matérias-primas escasseavam.
Serviços básicos de saúde e educação foram comprometidos. Grandes indústrias, como Agrale, Marcopolo e Randon, ficaram impossibilitadas de produzir justo no momento em que comemoravam o retorno dos pedidos. De mãos atadas, a economia brasileira já teria perdido pelo menos R$ 10 bilhões nos oito dias de manifestações nas estradas.
Desde domingo, cresceu, porém, a expectativa de desarticulação da greve dos caminhoneiros com o anúncio do presidente Michel Temer de que a pauta de reivindicações da categoria havia sido atendida na íntegra. Não foi isso que se viu. O grito de guerra assumiu bandeiras com cores partidárias, pedidos de intervenção militar e frases de efeito contra ou a favor de políticos, fazendo o movimento arrastado tornar-se insensível diante de prejuízos incalculáveis e risco à vida das pessoas.
A luta era justa, mas não pode perder a legitimidade ao não saber aonde quer chegar.
"O movimento equilibra-se numa perigosa linha que partiu da legitimidade da reivindicação dos caminhoneiros para a irresponsabilidade do caos", define um empresário de Caxias.