O consumidor já vem de um 2016 em que desemprego, inflação alta, juro abusivo deixaram as finanças comprometidas e exigiram cautela para não ser acometido por um maremoto incontornável de dívidas. A página da crise não foi virada. Ainda. Mas a grande lição que ela nos deixa – sempre tem um lado bom – é a importância de planejamento, de economizar e de ter disciplina com os gastos, pois o futuro é incerto e pode desestabilizar empresas e famílias.
O trabalhador ficou mais consciente. Para auxiliá-lo neste começo de 2017, quando as contas se avolumam com o pagamento de impostos, presentes, férias e volta às aulas, a coluna buscou dicas com Volnei Ferreira de Castilhos.Em entrevista exclusiva, o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), consultor de empresas e palestrante fala sobre como organizar as finanças e ter uma vida com menos sobressaltos.
Como as famílias podem se organizar neste início de 2017?
Volnei Ferreira de Castilhos: Nós, brasileiros, não fomos educados para fazer planejamento financeiro, diferentemente de outros países, como Estados Unidos, Japão e Inglaterra. O primeiro passo é saber quanto representam os custos fixos e variáveis da família e colocá-los em uma planilha, aplicativos ou algum sistema de informática para lançar as entradas (recebimentos), menos os gastos e ver se a família está endividada ou se tem folga para investimentos. Sempre gastar menos do que se ganha. Solteiros devem economizar mensalmente de 20% a 30%, já pensando no futuro, e casados, no mínimo, 10%, é o capital de giro da família.
As dívidas aumentam muito no começo do ano, com férias, pagamento de impostos e volta às aulas. Como não endividar-se?
Exatamente fazendo um planejamento financeiro de sempre 12 meses para frente, pois são gastos que acontecem todos os anos. A família deve conversar sobre prioridades e definir metas para não entrar em dívidas caras (cartão de crédito e cheque especial).
Para as famílias que já começam 2017 inadimplentes e sem emprego, como sair do vermelho e amenizar os juros? Parar de pagar juros. Como? O primeiro passo é sempre dividir com a família a situação financeira no momento e juntos buscar alternativas para avaliar e reduzir custos. Mudar dívidas de curto para longo prazo. Tentar com familiares e amigos ou com o banco linhas mais baratas para sair do vermelho. Sempre mudar o perfil de pagamento dos juros. Qualificar-se e buscar alternativas para empreender, pois, “enquanto alguns choram, outros vendem lenço”.
Muitas empresas também começam o ano em dificuldades. Quais os conselhos para enxugar custos e ampliar a rentabilidade?
Investir em uma boa contabilidade para gerar informações corretas para que a empresa possa avaliar o seu endividamento, quanto é a rentabilidade e ter a certeza de quanto é o lucro ou o prejuízo. Buscar o fortalecimento do caixa, revisar custos, melhorar o atendimento do cliente, continuar inovando e sempre buscar novos nichos de mercado. Pensar no longo prazo. Melhorar o planejamento estratégico, valorizando ainda mais o maior ativo, que são as pessoas, e diariamente entender o comportamento do consumidor. O brasileiro é refém de taxas de juros abusivas.
O uso do cartão de crédito rotativo é o grande vilão?
Muitos brasileiros pagam a parcela mínima do cartão de crédito e não têm limite de gastos nessa modalidade. É o vilão junto com o cheque especial. O crédito foi liberado de maneira muito fácil e as pessoas não controlavam suas finanças. Olhavam o tamanho da prestação e não o custo total que estavam pagando nos parcelamentos.
O consumidor não tem noções de educação financeira. Como mudar isso?
O primeiro passo é não gastar mais do que se ganha. O segundo passo é planejar e controlar mensalmente tudo que recebemos e o que deveremos pagar. Avaliar o que realmente é necessário gastar. Não comprar por impulso, como muitos fazem. Sempre guardar alguma coisa. Educação financeira precisa ser ensinada desde as séries iniciais nos colégios e os pais falarem para os filhos a importância de planejar no longo prazo.
Que tipo de aplicações você sugere?
Depende muito do perfil de risco de cada pessoa e do tempo que vai ser aplicado o dinheiro. Tesouro Direto, Fundos de Rendas Fixas, CDBs, PGBL, VGBL, salas comerciais. Terrenos, dependendo da localização, pois os preços estavam foram da realidade. Dependendo do valor e do perfil, tem pessoas que investem em poupança. Importante: Sempre dividir risco, diversificar os investimentos, (diversificação de portfólio). Investimento em ações, com cuidado e conhecimento do mercado, também poderá ser uma opção.
Quais lições a crise deixa ao consumidor?
Onde tem crise, existe oportunidade. Que sempre precisamos estar mais qualificados e adaptados às exigências do mercado. Crises sempre existiram e continuarão a existir, sobrevive quem planeja, quem tem pensamento de longo prazo. O problema de nós, brasileiros, é a visão de curto prazo e não olharmos números. As crises nos ensinam principalmente que ninguém sobrevive sem planejamento. Precisamos gastar de forma consciente e sempre termos reservas financeiras.
Caixa-Forte
"Sobrevive à crise quem planeja e tem pensamento de longo prazo", diz consultor
Professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Volnei Ferreira de Castilhos dá dicas de como organizar as finanças e não endividar-se em 2017
Silvana Toazza
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