A presença dos efeitos das mudanças climáticas em eventos extremos recentes acontecidos no Brasil foi um dos principais temas de uma entrevista concedida pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, na manhã desta quarta-feira (12). Ela foi ouvida no programa Bom Dia, Ministra, da Empresa Brasileira de Comunicações (EBC), e respondeu a perguntas de jornalistas de oito emissoras. Eu participei representando a Gaúcha Serra.
Como era de se esperar, a enchente no RS acabou sendo um dos temas abordados. Marina ressaltou o entendimento de que os fatos acontecidos em maio têm relação com as mudanças mais amplas do clima, em virtude do aquecimento global. Como exemplo dessa realidade, foi citada uma situação que o próprio estado natal dela, o Acre, está vivendo.
Depois de passar pela segunda maior enchente da sua história em fevereiro, nesta segunda-feira (11), menos de seis meses depois, foi decretada situação de emergência ambiental em todos os 22 municípios acreanos. Dessa vez, no entanto, o problema é a seca. Ela classificou essa situação como prova de um amplo desarranjo ambiental e defendeu que sejam ampliados os esforços para evitar um agravamento da situação, especialmente com redução do desmatamento e destruição de ecossistemas.
— O esforço que a gente tem que fazer é, em primeiro lugar, evitar continuar agravando o problema, evitando desmatamento. Esta é, no Brasil, a principal fonte de emissão de CO₂, que faz com que a gente tenha agora este desmantelamento do clima. Nós estamos vivendo uma situação em que aquilo que nós sabíamos lidar, com um período de cheias e depois uma estiagem, agora a gente já não sabe mais. Temos que nos dar conta de que não pode continuar desmatando, não pode continuar emitindo CO₂ por uso de carvão, petróleo e gás. Essa é a principal questão, mas também precisamos ter planos emergenciais para situações de cheia e seca — destacou Marina.
A partir de situações como as do Acre e do Rio Grande do Sul, ela foi questionada sobre como a legislação pode ser melhorada e ampliada, a fim de frear os danos ao meio ambiente. Marina destacou o entendimento de que o aparato legal brasileiro que trata do tema ainda é excelente e que, antes de fazer novas leis, é preciso cumprir e implementar o que já está previsto. Além disso, ela criticou algumas ações de enfraquecimento da legislação, citando como exemplo flexibilizações recentes em leis que tratam das áreas de preservação permanente em margens de rios e encostas:
— Veja o que acontece quando você acha que está tirando uma trava ambiental e facilitando o desenvolvimento. Em seguida vem uma situação como essa, prejudica e tira a vida de muitas pessoas. Então, vamos ter sim que recuperar a legislação, que é boa, e não permitir que esses retrocessos aconteçam.
Além focar em ações de preservação, a ministra admitiu que é preciso melhorar os sistemas de alerta e defesa das populações, pois é provável que novos eventos extremos aconteçam. Ela também defendeu que as ações de reconstrução das áreas atingidas, inclusive no RS, precisam levar em conta critérios de sustentabilidade, com respeito à legislação e também aos ensinamentos da natureza.
— A reconstrução deve considerar não apenas os aspectos de natureza tecnológica. Tem que considerar também o que natureza está nos ensinando. Tem problemas que a nossa tecnologia não tem como resolver. A água precisa de espaço e, portanto, as áreas de várzea têm que ser respeitadas. E nos municípios mais vulneráveis, em alguns casos, a gente vai ter que trabalhar até mesmo a remoção de população — concluiu a ministra.