Uma reunião pública na noite da última quarta-feira (27), na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, marcou a entrega dos relatórios finais do Plano Diretor de Transportes e Mobilidade Urbana (Planmob Caxias). Durante quase dois anos foram analisadas as facetas do tráfego pela cidade, com o objetivo de mapear os principais problemas e apontar possíveis soluções. O documento resultante é robusto e detalhado, e coloca a cidade diante do desafio de colocar em prática, mesmo que aos poucos, o que foi identificado.
Não que não se soubesse que há muitas necessidades. Com o crescimento acelerado nas últimas décadas, Caxias do Sul foi aumentando a área urbana de forma desordenada, em geral ampliando o uso das vias já existentes, até da área rural, para receber veículos e pedestres. Isso resultou em problemas diversos, com muito improviso, trânsito desumanizado e prioridade para o transporte individual.
Os problemas eram conhecidos, e havia muitas propostas de melhoria apresentadas de forma solta, sem conexão entre as ideias. Esta foi a primeira tarefa do Planmob: analisar as necessidades e apresentar soluções viáveis, pensadas de forma conjunta e conectadas entre as frentes que precisam ser atendidas. Ao todo são 24 diretrizes e 72 propostas. De forma resumida, o estudo aponta como linhas principais de trabalho o fortalecimento do transporte coletivo, a qualificação dos espaços para pedestres e a valorização de novos modais, especialmente os destinados às bicicletas.
Esses três rumos apontados já apontam uma diferença fundamental no que é feito até agora, pois é dado protagonismo a três áreas historicamente menosprezadas em Caxias. E será possível tirar essas ideias do papel? Acredito que sim, já que vivemos um novo momento, onde há um ambiente favorável a esse tipo de mudança, especialmente pelas questões trazidas pelo debate de proteção ao meio ambiente. No entanto, possível não significa fácil, e há grandes obstáculos a serem superados.
O primeiro, obviamente, é financeiro. Há ações previstas que até não envolvem o uso de grandes somas, mas boa parte dos projetos previstos exige um investimento de recursos que neste momento não existem no caixa do município. A solução é agilizar a confecção dos projetos finais e correr atrás de dinheiro. A boa notícia revelada pelo secretário de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Alfonso Willenbring Júnior, é que já há contatos feitos, por exemplo, com a Corporação Andina de Fomento (CAF), para conseguir financiamentos. Para que se consolide, porém, é preciso que o cumprimento do Planmob seja visto como uma política de longo prazo, e que deve ter continuidade e ser tocado independentemente do governo de plantão, em um projeto estratégico para o município.
A outra questão a ser superada é a mudança de mentalidade. Ao priorizar temas como transporte coletivo, áreas para pedestres e ciclofaixas, deverá ser feito um amplo trabalho de esclarecimento e conscientização da comunidade, que precisa entender essas frentes como realmente prioritárias. Se conseguir conciliar a chegada de recursos com uma mudança de mentalidade, Caxias do Sul terá todas as condições de ver, nos próximos anos, uma verdadeira revolução no setor de mobilidade. Faria muito bem para a cidade.