A surpreendente notícia de que a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) impôs, ainda em dezembro, restrições para algumas operações do Aeroporto Regional Hugo Cantergiani, repercutiu fortemente em Caxias do Sul. E não podia ser diferente, pois além de o episódio ter sido divulgado de forma um tanto "atravessada", também expôs um acúmulo de pendências impressionante.
Tudo surgiu a partir de postagens do vereador Adriano Bressan (PRD), em tese membro da base aliada ao governo Adiló. Ele colocou na internet que a ANAC enviara à Câmara um documento onde ameaçava interditar o aeroporto, por falta de ação dos gestores para resolver problemas já apontados no local. Procurado pela reportagem, o parlamentar disse não saber quais seriam estes problemas e que também estava buscando informações.
A atitude de Bressan não agradou em nada a prefeitura e o secretário Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Alfonso Willenbring Júnior, classificou o vídeo como desinformação. Ele confirmou que o aeroporto sofreu algumas restrições por parte da ANAC, como a impossibilidade de ampliar o número de voos ou de usar aeronaves maiores, mas repudiou o termo interdição. Além disso, revelou que foi dado um prazo de 120 dias, que vence em março, para que comecem a ser encaminhadas soluções das questões operacionais e técnicas apontadas. Por fim, reiterou que Bressan "não tem noção do que falou e quis embarcar na janela de um trem e aparecer um pouco mais".
A resposta de Willenbring, porém, mostrou que havia bastante fogo embaixo da fumaça apontada por Bressan. E aí entra o primeiro aspecto importante deste caso, que é a necessidade de mais transparência. Por mais que o parlamentar tenha feito a denúncia de forma um tanto precipitada, ele teve o mérito de trazer ao público uma questão importante, que estava se desenvolvendo nos bastidores há meses, e até então sem nenhum tipo de divulgação sobre as restrições impostas.
Em última instância, Bressan exerceu o saudável papel de fiscalização atribuído aos vereadores. Se a prefeitura tivesse deixado a sociedade ciente de que enfrentava problemas na administração do aeroporto, e de que estava já buscando as soluções para as questões estabelecidas pela ANAC, não teria que correr atrás para desmentir o vereador.
O segundo aspecto é sobre a dificuldade de gestão. Por mais que novos problemas possam surgir no dia a dia, é impressionante que o Estado (antigo administrador) e a prefeitura tenham deixado se acumular tantas questões pendentes no aeroporto. Levando em conta o que foi dito pelo próprio Willenbring, vai ser necessário recapear a pista, homologar uma área de giro em uma das cabeceiras, mudar a capacidade de visão do posto dos bombeiros e ajustar questões de comunicação interna da cabine de comando, entre outros pontos. Também terá de ser instalado um Indicador de Percurso de Aproximação de Precisão (Papi), que é um sistema de iluminação localizado ao lado da pista.
A prefeitura alega que só passou a ter conhecimento de tudo quando assumiu a administração do aeroporto, em abril passado. De qualquer forma, é inadmissível que os responsáveis tenham deixado acumular essa quantidade de problemas, ainda mais em um equipamento público que tem arrecadação mensal que beira os R$ 600 mil. Aliás, o próprio secretário Willenbring deu uma ideia de como essa verba era mal administrada pelo estado:
— Nunca nós tínhamos recebido a arrecadação do aeroporto. Em consultas que eu tive com o Departamento Aeroportuário do Estado, eles não sabiam me dizer qual era o número de passageiros diários, nem a média, e não sabiam dizer qual era a arrecadação com as taxas de embarque. Se eles não sabiam quanto arrecadavam, como iam investir? — argumentou.
Com tanta imprevidência e desorganização, resta cobrar que a prefeitura resolva os problemas e implante rapidamente uma administração mais profissional no setor. É o mínimo que se exige de quem pretende tocar um projeto muito maior, como o novo Aeroporto da Serra Gaúcha, em Vila Oliva.