Uma reunião realizada nesta segunda-feira (05) na Câmara de Indústria, Comércio, Agricultura e Serviços (CIC) de Vacaria foi um passo importante para manter vivo o tema da retomada do transporte ferroviário na Serra Gaúcha. Por mais que não tenham sido obtidos grandes resultados práticos do encontro, ele cumpriu um papel político importante. A quantidade de lideranças presentes mostrou mobilização e interesse, o que é fundamental para fazer com que a proposta vença as dificuldades que têm surgido ao longo do tempo.
Para relembrar: o projeto, debatido há cerca de dez anos, propõe que seja construído um terminal na saída de Vacaria, em um terreno entre a BR-116 e o leito da ferrovia, fazendo a integração entre trens e caminhões. Com isso, as matérias-primas que chegassem pelos trilhos poderiam ser facilmente distribuídas pela região, e os artefatos aqui produzidos também teriam uma opção de frete mais barata para chegar a São Paulo e outros grandes centros consumidores.
E por que em Vacaria? A cidade tem uma posição estratégica em termos logísticos, especialmente porque é um dos últimos pontos do estado com ligação via trem com o resto do país. Assim, ela tem o potencial de ser o elo do RS com a malha ferroviária nacional, que inclusive tem recebido grandes investimentos. Tudo muito óbvio, mas infelizmente as coisas não são tão lógicas assim no Brasil.
Sem ter dado explicações convincentes, a detentora da concessão deste trecho da ferrovia, a Rumo, nunca mostrou interesse na ideia. E ela é uma peça fundamental para que o processo ande, pois só se comprovará a existência de demanda se o serviço de transporte de cargas para a Serra for oferecido e tiver o mínimo de investimento. Aliás, o investimento dela talvez nem seja alto, pois a iniciativa privada está interessada em colocar dinheiro na construção e operação do terminal. Falta, em última instância, boa vontade da Rumo.
O momento, porém, é propício para reverter esta situação. O presidente do MobiCaxias, Rodrigo Postiglione, gostou do encontro e entende que a presença de lideranças políticas como o vice-governador Gabriel Souza e o senador Luiz Carlos Heinze, além de diversos deputados e prefeitos, dá força ao movimento. Para ele, a vinda do diretor de Outorgas de Ferrovias do Ministério dos Transportes, Álvaro Neto, também é uma sinalização de boa vontade do Governo Federal em relação à ideia. Agora, a prioridade é elaborar um mapa de cargas, para comprovar à concessionária que há viabilidade financeira no negócio.
— Ela (a Rumo) continua não tendo interesse, mas nós continuamos fazendo nosso dever de casa, fazendo o mapa de cargas. Isso nós já havíamos trabalhado com a UCS, para um levantamento das cargas que irão para o porto do Litoral Norte, principalmente do frango, da maçã, da madeira e do metalmecânico agrícola. Antigamente, a Rumo achava que só teria carga de grãos, e por isso o mapa de cargas fará com que a gente contribua. O gerente de operações da Randon para a área ferroviária revelou que, somente para esta empresa, chegam diariamente 20 carretas com bobinas de aço. Então, esta consolidação de demanda agora é o nosso tema de casa — pontua Postiglione.
Além da mobilização da região, o fato de a concessão da empresa terminar em 2027 e estar passando agora por uma negociação pode auxiliar no avanço do empreendimento. A prorrogação do contrato está em tratativa, e a contrapartida da empresa seria oferecer investimentos e novas rotas, o que se encaixa no que vem sendo pedido pela região. Um plano de desenvolvimento da malha deve ser entregue pela Rumo ao Governo Federal até abril, e aí entra a oportunidade para o projeto de Vacaria ser contemplado.
Entendo que a questão do transporte ferroviário deve ser colocada como prioridade, no mesmo nível do novo aeroporto regional e do porto do Litoral Norte. Talvez seja, inclusive, a ideia mais próxima de ser viabilizada, pois já tem uma estrutura básica instalada e dependeria de um investimento menor. Um simples dado apresentado no encontro mostra o quanto este projeto traria vantagens para a região. Segundo este estudo, em uma ferrovia, o custo de transporte de uma tonelada por quilômetro é 72% menor do que em uma rodovia. Ou seja, estamos diante de um perspectiva de economia gigantesca para a Serra. Vamos perder este trem?