Um balanço divulgado pela prefeitura de Caxias do Sul confirmou algo que os cidadãos vivenciaram no dia a dia: a presença do mosquito Aedes aegypti bateu recordes em 2023. No quente e seco verão dos meses de janeiro e fevereiro, mas se estendendo também para o início do outono, foi comum encontrar o inseto em todos os cantos da cidade, trazendo incômodo e um grande risco à saúde pública.
Embora possa ser confundido com o pernilongo “tradicional”, o Aedes tem algumas características peculiares. Os hábitos diurnos e o voo mais ágil e próximo ao solo são os indícios de que é ele que está presente. Uma vez capturado ou morto, pode-se observar que além de ser um pouco menor, ele tem umas pintinhas brancas nas patas e corpo, que permitem o diferenciar.
Lembro que há cerca de 10, 15 anos, eram recebidos com preocupação os anúncios da Secretaria da Saúde (SMS) de que um foco do mosquito havia sido encontrado em Caxias. Isso normalmente ocorria próximo a locais com concentração de caminhões ou transportadoras, o que deixava bem claro que se tratava de insetos importados. Logo eram organizadas grandes ações de rastreamento e combate à proliferação, o que por anos funcionou e nos deixou longe da contaminação pela dengue.
Mas o quadro mudou totalmente nos últimos anos. Foram 757 focos em 2023, em variados pontos, um crescimento de 4% em relação a 2022, que já tinha sido um recorde. Do Charqueadas ao Cruzeiro, do Fátima ao São Caetano, em todos os quadrantes da cidade, passando pelo Centro, praticamente todos os bairros tiveram a presença da praga. E já ouvi depoimentos de funcionários da Vigilância Ambiental de que o número de focos encontrados seria muito maior se houvesse mais equipes trabalhando.
A consequência é que neste período foram identificadas quatro ocorrências de caxienses que se contaminaram com a dengue dentro da cidade, os chamados casos autóctones, onde a pessoa é infectada sem viajar. Ou seja, além do mosquito, que é o vetor da transmissão, já há a circulação do vírus que provoca a doença.
A disseminação do Aedes aegypti não é uma exclusividade de Caxias do Sul, e é notada em diversos outros municípios gaúchos. No entanto, sinto falta de uma ação mais efetiva das autoridades por aqui. Voltando ao passado, quando se detectava a presença do mosquito, eram feitas grandes operações, com varredura das áreas ao redor e mobilização ampla, inclusive com a participação de órgãos como as Forças Armadas.
Hoje, em um quadro muito pior, a impressão é que se conta somente com a ação da Vigilância Ambiental, que, diga-se de passagem, faz um bom trabalho dentro das condições que dispõe. Mas seria preciso muito mais, seja para ampliar a visitação dos criadouros, como para informar e mobilizar a comunidade a ajudar neste combate, ajudando a eliminar os pontos de acúmulo de água. Aliás, uma boa campanha de alerta e divulgação também seria importante para engajar a população.
Isto tem que ser encarado como um investimento em prevenção, evitando a instalação de uma epidemia que, em outros cantos do país, causa muito sofrimento e sobrecarga do atendimento em saúde. Vale lembrar que, além da dengue, o Aedes pode transmitir a febre chikungunya e a zika. Ainda podemos evitar isso, mas é preciso agir logo, sem desculpas, adiamentos e comodismos.