O ano de 2023 tem muitos motivos para comemoração na mais antiga entidade tradicionalista de Caxias do Sul. O Rincão da Lealdade completou 70 anos de fundação no último dia 29 de outubro, mas o presente veio um pouco antes, já que em 29 de setembro foi publicado no Diário Oficial do Estado o termo de cessão de uso da área histórica onde está localizado o CTG, às margens da BR-116.
Desde 2017 o Rincão vinha em uma disputa jurídica com o Estado, proprietário da área onde está construída a sede, e que pedia o terreno de volta. A ideia era que o terreno fosse repassado para o Hospital Geral (HG), que o utilizaria para novas ampliações. No início de 2022, uma decisão da Justiça chegou a determinar que a área fosse devolvida, e uma ordem para reintegração de posse foi suspensa pela 2ª Vara Cível de Caxias do Sul na véspera do prazo para vencimento da execução.
A partir daí começou uma série de movimentações e negociações. O próprio governador Eduardo Leite participou de encontros sobre o tema, e por fim se chegou a uma conciliação. O termo da Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão garante a cedência do espaço de 1.293 m² por um prazo inicial de cinco anos, e a contrapartida é o CTG realizar o Projeto Chama Viva, que prevê ações de cultura e filantropia.
De acordo com o patrão do CTG, Anderson Oliveira, além dos argumentos pela preservação histórica do espaço, pesou o fato de não haver, de momento, perspectiva de utilização da área pelo HG, que busca recursos para outras prioridades. A cedência por cinco anos, que pode ser renovada, dá tempo para que essa situação seja reavaliada pelo Estado, caso surja alguma possibilidade real de uso da área pelo HG. Ainda assim, ele considera que o acordo foi muito bom para a entidade.
— Depois de muito trabalho, diálogo e construção, conseguimos encerrar um processo judicial com uma conciliação com o governo do Estado, e regularizamos o uso do terreno onde está o CTG. Então, temos muito a comemorar, pois nossa entidade está mais viva do que nunca e continuará servindo a nossa comunidade e à cultura gaúcha com maestria, como sempre fez, nesses 70 anos de história — ressalta Oliveira.
Terceiro CTG a ser fundado no Estado, e o mais antigo de Caxias do Sul, o Rincão da Lealdade tem importante participação na cultura e na história da cidade. Situado no mesmo ponto desde 1953, quando foi fundado, tem trajetória marcante na celebração e difusão do tradicionalismo. Além disso, ao longo do tempo se consolidou como uma referência social da comunidade.
Em sua sede foram recebidos presidentes da república em visita à região, e o local também centralizou durante muitos anos o escrutínio de votos da população caxiense durante as eleições. A entidade tem objetos que compõem um amplo acervo cultural e histórico, onde se inclui uma das quatro estátuas do Negrinho do Pastoreio existentes no Rio Grande do Sul.
Para comemorar os 70 anos e a manutenção da sede, um baile com Os Monarcas está programado para o dia 18, às 22h. A festa ocorrerá no salão de eventos do Ginásio do Sesi, no bairro Interlagos.
Em uma cidade que tem muita dificuldade em proteger sua história, a preservação do Rincão da Lealdade é uma boa notícia. Infelizmente, temos uma mentalidade que não prioriza a manutenção de prédios históricos, e que não reconhece que eles podem cumprir um papel social, cultural e econômico muito importante.
A proposta de cedência do terreno para utilização na área da saúde atrai simpatia por toda a necessidade que se tem de atendimento neste setor. No entanto, vale lembrar que o CTG está ali muito antes da construção do Hospital Geral, e o fato deste último não conseguir nem cumprir outras prioridades de construção por falta de verbas é algo que precisa ser levado em conta neste momento. A retirada do Rincão serviria para quê, afinal? Para deixar a área abandonada?
Prevaleceu o bom senso. A cultura e o patrimônio histórico da cidade agradecem.