Reconstruir. Voltar e refazer. Sonhar. É urgente que voltemos a sonhar. Sem novos sonhos não reconstruiremos o que a tragédia que vivemos, levou. Levou vidas, pessoas, animais. Pontes, ruas, estradas, terras. Amores, amigos, familiares. Levou o passado de nossas histórias. Árvores, construções, cidades inteiras. O sono, a paz e a tranquilidade. Rasgou o presente. Dilacerou a vida e trouxe morte e perdas. Os rios cresceram e choram pelos nossos olhos diante de tanta dor e tristeza. Nossas águas internas se misturam às de fora. Mas a culpa não é da natureza. Não é do rio nem das águas violentas que arrastaram tudo que encontraram pela frente. A Terra é um corpo abusado. Um corpo explorado ao máximo. Fomos inundados pelas águas de um ventre que sangra.
É urgente que falemos sobre as mudanças climáticas. Precisamos eleger políticos comprometidos com essa demanda. Com todo respeito, mas nem a fé em Deus, nem a confiança em deixar as coisas como estão, nem mesmo o compromisso com o desenvolvimento sustentável, reconhecem a nossa imensa dependência da natureza e da Terra em si. Se deixarmos de cuidar de nossa casa maior, nosso planeta, ela sem dúvida cuidará de si, como tem demonstrado, fazendo com que nós nos demos conta de que não somos mais bem-vindos. Nossa fé precisa olhar para nosso lar terreno de outro modo. Precisamos vê-lo como um lugar sagrado, parte da criação de algo muito maior e reconhecer que temos profanado esse chão que nos acolhe. A Terra não existe para ser explorada em prol da humanidade. Por que somos tão lentos em enxergar os grandes perigos que ameaçam a nós e a civilização? Por que tantos de nós são negacionistas? O que nos impede de compreender que a Terra está doente?
Chegamos a tragédia que enfrentamos, a essa desordem atual, por conta de nossa inteligência e inventividade voltadas à ambição. Associado a isso, há um pensamento atomístico e reducionista de séculos que nos leva a uma visão limitada da Terra. E quem paga com a vida e a morte são sempre os mais desassistidos. A tragédia tem cor, classe social e econômica.
Precisamos voltar a sonhar e renovar nosso amor pela natureza. Precisamos de pessoas com capacidade para ser gente de verdade. O mundo não precisa de gente egoísta que enche o tanque de gasolina ou esgota o estoque de papel higiênico nos mercados. É também por causa deste pensamento minúsculo que estamos onde estamos. O mundo já está cheio demais de pessoas que só pensam nelas mesmas. E se você que me lê foi uma dessas pessoas, não sinta raiva do que escrevo, tenha vergonha, pois sentir vergonha é sinal de que resta uma certa humanidade em si.
Precisamos de pessoas que sonhem outras possibilidades, que tenham esperança e coragem para recomeçar. Desfazer o mal que foi realizado requer programas políticos e consciência ambiental em larga escala, muito maiores que os programas espaciais ou militares. A Terra grita de cima dos telhados, com as mãos estendidas na busca de ajuda, ouçamos os pedidos de socorro.