Eu também já desisti. Muitas vezes. Aceitar que o caminho se encerra e é preciso recomeçar pode parecer assustador num primeiro momento. Desistir não é uma decisão fácil. Somos educados a permanecer na coisa até o fim, mesmo que doa demais. Como se doer fosse parte da jornada para conseguir chegar onde desejamos. Uma coisa meio sacrificial e, às vezes, até autopunitiva. Desistir de algo que já não está mais nos fazendo bem e ter a coragem de dizer para si mesmo que é necessário encerrar o ciclo, traz consigo uma sensação de frustração. Admito. Uma sensação de que não fomos capazes o suficiente. Nem fortes. O gosto é amargo. No entanto, permanecer é ainda pior. O corpo já não aguenta mais nem a cabeça e chegamos naquele limite que nos joga para uma escolha difícil e necessária.
Agora em novembro fazem seis anos que deixei a Secretaria da Cultura. Raríssimas vezes falei sobre isso. Apenas com as pessoas mais íntimas, que acompanharam aquele ano de 2017, compartilhei o que senti. Eu desisti. Em 10 de novembro pedi minha exoneração do cargo. Aquele novembro marca a minha desistência. Foram 10 meses e 10 dias de um mergulho na política pública que me jogaram num mar de ambiguidades. Ao mesmo tempo em que conheci pessoas maravilhosas, conheci o pior de outras. É impressionante como as pessoas se transformam diante do poder. E cá entre nós, como isso tudo é ilusório.
Estar na vida pública nunca tinha sido um sonho, mas aconteceu. Conhecer o funcionamento da máquina por dentro foi um aprendizado sem tamanho. Confesso, que minha relação com o Poder Executivo é longa, meu primeiro emprego foi como estagiária no gabinete do prefeito em 1997. Desde aquele tempo fiz amizades com pessoas que até hoje guardo respeito e carinho. No dia da posse, em 17, escutava meu nome sendo chamado por funcionários públicos que me viram crescer profissionalmente e talvez essa seja a memória mais afetiva e querida que guardo daqueles tempos.
Aos poucos fui percebendo que estava no lugar errado, que pensava diferente, que não teria recursos nem financeiros e nem emocionais para realizar o que tanto defendia. Dar-se conta disso é um lugar muito solitário. Por mais que estivesse rodeada de pessoas que me sustentavam nas decisões e embasavam minhas escolhas, fui descobrindo que não teria forças para lidar com tanto jogo político, inveja, falta de ética e misoginia. Dar-se conta disso é cair num abismo sem conseguir imaginar como se chega ao chão. Eu escutava constantemente que não iria conseguir chegar ao fim do mandato. Não consegui. O que eu mais ouvia é que eu era poética demais, boa demais, calma demais, sensível demais, artista demais, e que estar ali não era coisa para gente assim.
Em novembro desisti. Não sei se a política não é lugar para gente assim. Sigo sendo romântica e utópica, confesso, acreditando na construção de um espaço coletivo, ético e humano. Mas, persistir é ter sabedoria para reconhecer até quando vale a pena continuar insistindo. Desistir faz parte da jornada.