Haveria de haver uma santa que protegesse contra maus casamentos. Daquelas que se pudesse rezar e pedir para descasar. Um dia só dela. Um dia feito de caminhada contra a violência, batuque e muita roda de conversa: afinal, o que desejamos é o que desejamos ou o que os outros esperam que a gente deseje? E as que não desejam seguir esse script de casar, ter filhos, virar mãe? Seriam perdoadas e não sentiriam culpa. Afinal, as mulheres também podem escolher a si mesmas ao invés de escolher sempre o outro. Isso não tem nada de egoísmo. Esse discurso de que não podemos nos colocar em primeiro lugar é machista e para entender de modo muito fácil como isso é um gendramento de gênero, basta pensar pelo viés masculino. Pronto, ao inverter a história, a história é outra. Uma vela a mais para Santa Antônia que antes de querer que a gente case, quer que aprendamos a pensar e a escolher por nós mesmas. Santa Antônia seria uma santa fora do estereótipo. Sem esse blábláblá de ser virgem e sofredora. Os que me leram até aqui e tem alguma dificuldade em rir, não me levem a mal, não escrevo para maldizer da fé de ninguém. Pelo contrário. Escrevo como forma de inverter a lógica e quem sabe abrir espaço para uma outra narrativa, que não a já existente. Antônia, Tereza, Maria, Mariana e mais uma leva de mulheres tem muita fé mas já descobriram que deus, às vezes é homem demais, que não ouve o choro e nem lê sobre os números da violência contra mulher. Por isso, a reza é outra.
Bom mesmo se fosse uma santa que prevenisse contra uniões que trouxessem sofrimento. Uma antecipação. Quase um oráculo que se pudesse consultar antes de cometer a bobagem. Uma espécie de santa que alertasse que essa coisa de amor romântico, idealizado, não existe. Que clareasse o pensamento nos ensinando que nunca, jamais, conseguiremos mudar o outro. Que pode ser boazinha, paciente e submissa, não adianta, ele não vai mudar, esqueça. Então é melhor você aprender a ser você mesma.
Uma santa que dissesse de cara que casar não é nem nunca foi acertar na loteria. Que é preciso pensar muito antes de casar e que não existe isso de ficar na dúvida entre comprar uma bicicleta ou casar. Que casamento é coisa complexa, séria, difícil e às vezes pesada. Que se se tem amor pode ser que fique mais leve, o que não significa de que de vez em quando a coisa não fique feia. Uma santa que nos encorajasse a sermos mais honestas com nossos sentimentos.
Se Santa Antônia existisse não seria necessário pendurá-la de cabeça para baixo para arrumar casamento. Ela não é santa casamenteira. Antônia é mulher, viva, alegre, querendo amar e ser amada, mas que já não fica mais quieta, calada, porque isso era o que a avó fazia para não apanhar. E suportava uma vida toda um casamento falido. É que santa Antônia não é santa. Nem nunca quis ser.