Adriana Antunes
Haveria de haver uma santa que protegesse contra maus casamentos. Daquelas que se pudesse rezar e pedir para descasar. Um dia só dela. Um dia feito de caminhada contra a violência, batuque e muita roda de conversa: afinal, o que desejamos é o que desejamos ou o que os outros esperam que a gente deseje? E as que não desejam seguir esse script de casar, ter filhos, virar mãe? Seriam perdoadas e não sentiriam culpa. Afinal, as mulheres também podem escolher a si mesmas ao invés de escolher sempre o outro. Isso não tem nada de egoísmo. Esse discurso de que não podemos nos colocar em primeiro lugar é machista e para entender de modo muito fácil como isso é um gendramento de gênero, basta pensar pelo viés masculino. Pronto, ao inverter a história, a história é outra. Uma vela a mais para Santa Antônia que antes de querer que a gente case, quer que aprendamos a pensar e a escolher por nós mesmas. Santa Antônia seria uma santa fora do estereótipo. Sem esse blábláblá de ser virgem e sofredora. Os que me leram até aqui e tem alguma dificuldade em rir, não me levem a mal, não escrevo para maldizer da fé de ninguém. Pelo contrário. Escrevo como forma de inverter a lógica e quem sabe abrir espaço para uma outra narrativa, que não a já existente. Antônia, Tereza, Maria, Mariana e mais uma leva de mulheres tem muita fé mas já descobriram que deus, às vezes é homem demais, que não ouve o choro e nem lê sobre os números da violência contra mulher. Por isso, a reza é outra.
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