Não é fácil defender o envelhecimento feminino. Há uma onda atrás da outra que parece nos exigir a manutenção do corpo feminino o tempo todo. Sim, é como se não pudéssemos envelhecer. Vítimas ativas que somos, puxamos aqui, preenchemos ali, erguemos lá. Olhar-se no espelho é tão complicado quanto olhar os stories do Instagram. Odeio quando encontro amigos de outros tempos e me dizem que o tempo parece não ter passado para mim. Entendo a gentileza da fala, mas me pergunto, então só sou bonita e aceita porque mantenho o frescor da juventude? Acreditar neste tipo de elogio é uma armadilha. Até porque, bem sei quando me olho no espelho todos os dias, que sim, o tempo passou para mim também. Meu corpo já não é mais o mesmo. Não mesmo. Nem meu rosto. Muito menos meus cabelos.
É claro que também olho para essa manutenção toda da estética como uma necessidade, talvez uma busca pela autoaceitação. Nem sempre o foco é o outro. Há sempre um interno sofredor pelas perdas que o tempo traz. Envelhecer é aceitar a castração dos anos. Sim, perdemos o colágeno, ganhamos rugas, quilos, e cá entre nós, está tudo bem, afinal, estamos envelhecendo. Mas me impressiono como isso é tão mais cruel conosco. Como podemos ser cruéis com nós mesmas. A sociedade cobra, espera que sempre sigamos um determinado padrão, o da juventude de preferência, com a pele bem esticada e com viço, mas nós nos submetemos, e isso é fato. Não sou contra intervenções, de modo algum. Mas ter a boca que todas têm, ter os cílios que todas têm, ter o mesmo nariz que todas têm é nos coisificarmos por conta própria. É claro que resistir a isso tudo não é fácil. É uma pressão do cão. Uma vez, quando comecei a deixar os cabelos ficarem brancos ouvi de um velho conhecido, cujos cabelos já eram bem mais brancos que os meus, e há um bom tempo, dizer que eu não era vaidosa. A pessoa, no meio da rua, me encontra depois de anos e vem falar do meu cabelo? Respondi para ele, ué, e os teus que estão mais brancos que os meus? E ele me respondeu, mas eu sou homem.
A mudança começa por dentro. Começa por fazer a teoria toda virar prática. Começa pelo nosso corpo, nosso tempo, nossa autoaceitação. Começa por quebrar padrões, romper com os estereótipos, isso jamais significou ser desleixada ou pouco vaidosa. Falo pensando no nosso narcisismo saudável, porque viver em busca de uma aparência “harmônica” que nos submeta a clichês de beleza é nós mesmas nos objetificarmos. Precisamos nos libertar desse peso. Precisamos começar por nós a aceitar que nada será como antes, muito menos o nosso corpo, mas que podem se tornar outra coisa, com um outro tipo de beleza e valor.
Nosso corpo mede a distância percorrida em nossas vidas. A mudança é a medida do tempo. Mudamos todos, de certa forma, mas desejar manter algo que precisa mudar, pois a natureza é mais forte do que nós, é padecer e de padecimento em padecimento alimentamos as violências que nos cercam e que tanto lutamos contra.