Adriana Antunes
Entre as pedras da calçada observo os dentes de leão. Tenho um deslocamento. Cada vez que olho para eles, algo da infância me volta. Ou seria me (re)volta? Uma dor de estômago, uma sensação ruim de estar só, uma raiva disfarçada de boa educação. Amarela, a pequena flor, inverte a posição do sol e me aproxima do chão. O chão é esse estado de coisas que constelam entre o dia e a decomposição. Perto do solo somos mais gato, cachorro, grama. Somos mais poça de chuva, mãos sujas de barro, formigas, cogumelos. Somos o que somos sem nos importar em não ser nada. Somos o espaço e não um tempo.
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