Adriana Antunes
Uma criança atravessa o pátio. Me dobro sobre os joelhos e espero pelo seu abraço. O verão, envelhecido, se despede. As crianças brincam. Rolam pela grama. Inventam pântanos a partir de uma poça de água. Há sempre um quê de recomeço em cada infância. Uma nova chance. E uma mistura de ingenuidade e tempo dividem espaço na trilha do indeterminado. É fato que um dia isso acaba. Seja diante da imagem refletida no espelho ou nas manchas da idade sobre o dorso das mãos. Fomos infância por uma época. Uma espécie de acontecimento intransitivo. Se vivemos em uma família que soube respeitar nosso desenvolvimento e nos acolheu com amparo e ternura, haveremos de ter chegado até aqui de um certo modo, saudáveis. Haveremos de nos lembrar das cantigas de roda, da brincadeira de passa anel, de adivinhação, e esconde-esconde. A criança em nós é invocada a voltar no tempo, em direção ao futuro em que nos encontramos. E quando ela chega, nos assustamos.
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