Segunda-feira foi Dia da Mulher, para além de receber flores e mensagens de parabéns, é uma data significativa na luta feminina de espaço, autonomia, direitos e reconhecimento de si como tal. Falar de mulheres não é fácil, mesmo em pleno século 21. Ainda há um desconhecimento gigantesco sobre o que é ser mulher e como é ser mulher. Há muito desconhecimento sobre o feminismo, muita opinião e pouco entendimento. Vivemos numa sociedade que, de certa forma, espera que a mulher assuma determinados papéis, filha, esposa e mãe, embora já não sejam as únicas identificações. Há algumas décadas reconhece-se que as brasileiras ultrapassaram esses espaços tradicionalmente reservados ao dito sexo frágil. E muitas de nós desempenhamos funções sequer sonhadas pelas nossas avós e bisavós. Foi uma longa estrada percorrida até aqui, com muitas dificuldades, mas sem volta.
Por muito tempo, na história, os valores patriarcais moldaram (e ainda moldam) o que se pode entender por amor conjugal, função da esposa, corpo feminino, cuidados com a casa, a responsabilidade do lar, o tipo de sexo para as mulheres corretas e respeitosas, o papel de mãe. Tudo na busca de transformar a mulher na rainha do lar. De relance, até podemos pensar que já não é mais bem assim, mas basta uma conversa mais profunda com qualquer mulher (pergunte para a que está ao seu lado) como é ser mulher. Pergunte se desejou a maternidade como ela se apresenta? Do tempo dedicado aos cuidados da casa, desde as roupas para lavar até a comida do dia a dia, se ela não ouve que isso é ‘coisa de mulher’? Pergunte sobre o relacionamento afetivo, o que muda depois de ir morar junto ou casar, das agruras de ter de pagar uma sessão de análise porque não suporta o fato do parceiro nem sequer tirar o prato de cima da mesa quando termina de jantar. Pergunte sobre o que ela costuma ouvir quando come um pouco mais e fica acima do peso. E quando começa a envelhecer, então, o sofrimento psíquico ocasionado por uma cultura machista não só presente no masculino, mas introjetada até as costelas da mulher, numa referência hipócrita aos ensinamentos sobre o papel que ela deve representar e o pecado de nascer assim.
Gosto sempre de ressaltar quando falo sobre isso, que o gendramento não se dá apenas pelo lado da mulher. Não é nada fácil ser homem. Da mesma forma que há uma exigência para que a mulher se comporte desta ou daquela maneira, com os homens também ocorre isso. Afinal, homens de verdade precisam ser fortes, viris. Não podem ficar desempregados ou terem disfunções sexuais, como se a sua masculinidade dependesse disso.
Há um ano e meio tenho um grupo de estudos na UCS Sênior sobre protagonismo feminino, que, de modo muito aberto e acolhedor, mulheres com mais de 50 anos contam de si e costuram o tempo de agora com o de ontem. Tenho o maior orgulho delas. Corajosas, guerreiras, fortes, olham para si, suas trajetórias e sabem que ainda podem muito. Ali, descobrimos novas facetas de nosso ser e desejamos que outras tantas mulheres pudessem falar e ter a mesma oportunidade. Tenho certeza de que se elas receberam flores neste dia, agradeceram, mas sabem também que flores são efêmeras, já tomada de consciência, não.