Mais de três mil vidas. Menos três mil vidas. Todos os dias. Menos palavras. Sobram vazios. Muitos discursos. Alguns pedidos de desculpas. Muita ignorância. Muito egoísmo. Pouca eficácia. Pouca empatia. Mais pessoas gritam pela volta ao normal. Muitas pessoas nas ruas. Poucas com bom senso. Muitas apáticas. Muitas lunáticas. Poucas interessadas. Muito valor ao vil metal. Muita fome. Pouco panelaço. Muita conta para pagar. Pouca ajuda. Pouca fé. Muita fé. Pouca união. Muita aglomeração. Falta política.
Muita piada de mau gosto. Pouca vacina. Muita vergonha. Muitas mortes. Muita dor. Muito descaso. Muita banalização do mal. Pouca filosofia. Muito descaso. Muita fakenews. Muito grupo de whatsapp. Pouca interação. Nenhum encontro real. Sobra solidão. Muita notícia nacional. Muita repercussão internacional. Pouco entendimento. Muito negacionismo. Pouca saúde mental. Muito atendimento online. Pouco tempo. Muito tempo. Falta espaço. Muita violência. Muito abandono. Muito desamparo. Muita angústia. Menos sono. Muita medicação. Muita ansiedade. Muita raiva. Muito medo. Pouco acolhimento. Muita pornografia. Pouco tesão. Nada de amor. Muito instagram. Muitos likes. Pouca aceitação. Quanta tragédia. Mais de mil. Muito BBB. Muita gente falando bobagem. Pouca leitura. Pouca educação. Muito luto. Muita morte.
Pouca democracia. Pouca respiração. Muita arma. Pouca poesia. Pouca humanidade. Muita mediocridade. Exagerada hipocrisia. Pouca terapia. Muito mal estar na civilização. Muita pulsão de morte. Muita onipotência. Muito narcisismo. Pouco recalque. Muita politicagem. Pouco respeito. Muita abobrinha. Tudo com preço alto demais. Muito comentário. Pouca ação. Muita resiliência. Muita paciência. Muita somatização. Pouca articulação. Muita conversa fiada. Muita violência contra a mulher. Muita violência contra a criança. Muita violência contra os animais. Pouca culpa. Pouca criminalização. Pouca responsabilização. Muita romantização.
Muita normalização da violência. Muita passação de pano. Muita flexibilização. Muita desconexão. Muito corpo-máquina. Muito sistema. Muito Welles. Muito Derrida. Pouco signo. Muito sintoma. Muito esgotamento. Pouco pensamento. Pouca leitura. Muito carboidrato. Pouca metáfora. Até a função denotativa já está comprometida. Entre o muito que nunca é demais e o pouco que sustenta a falta de lógica, olho as estrelas e peço só um bocadinho mais de coragem e ternura. Muito. Pouco.