Ora, ora, como resistir a um pedaço de pizza que sobrou do meio dia? Como não comer um pouco a mais daquele prato delicioso de macarronada ou aquele pedaço de pão fresquinho, crocante e ainda quente que acabou de sair do forno (ou da padaria)? Comer é uma das melhores coisas do mundo. Eu adoro. O problema é quando comemos junto nossas angústias e ansiedades. Sim, eu sei que uma folha de couve não irá aplacar nossa tristeza, um maço de espinafre não irá conter nossa raiva, bem como uma caixa de bombons não nos fará sentir melhor depois de uma discussão. Mas comemos para compensar o emocional. Isso é fato. E enquanto escrevo ouço uma voz que deve ser comum a quem me lê, dizendo, não me julguem. Nós mesmos nos julgamos na sequência. Somos extremamente severos com nossos deslizes alimentares. Prometemos que não iremos mais compensar dor com doce de leite, paçoca e pipoca doce. Podemos até nos perguntar: por que não consigo aliviar uma decepção amorosa comendo um brócolis? Ou enfrentar um problema de trabalho comendo uma cenoura? Da mesma forma que nos empanturrar de bolo formigueiro não nos fará mais felizes. Mas por que sentimos fome quando não estamos bem emocionalmente? Porque talvez desde pequenos tenhamos aprendido a barganhar o mundo usando nossas emoções. A comida proporciona uma sensação de prazer, de satisfação e até de conforto. O problema é que comemos para fugir do estresse ou do tédio, da tristeza e até da alegria. Mas a mágica não se dá, porque logo depois continuaremos nos sentindo desamparados e pior, com culpa por ter comido a mais. Então descobrimos que a comida sozinha é incapaz de nos fazer sentir melhor. Mas isso só dura até o próximo pote de sorvete.
Não é somente isso. Precisamos voltar a comer com mais qualidade. Fico impressionada com a imensa porcaria com que as pessoas comem. Achocolatados, enlatados, embutidos, alimentos ricos em sódio, componentes químicos, multiprocessados, ricos em açúcar refinado, aditivos, farinha branca. Precisamos comer comida boa e saudável porque amamos nosso corpo e não porque o detestamos. Tratar o corpo com respeito é também optar por alimentos nutritivos. E sim, eu sei como é difícil mudar um hábito alimentar. Às vezes penso que conseguimos entender melhor uma neurose, do que conseguir diminuir o excesso de gordura animal da alimentação.
A relação que estabelecemos com a comida são heranças de nossos pais, avós e mídia. Crescemos comendo feijão e arroz e hambúrguer. Comigo também foi assim. Depois, aos poucos, por meio da autoconsciência corporal e emocional vamos nos dando conta de que alguns alimentos devem ser evitados da nossa dieta, não só porque fazem mal para o organismo, mas porque sabotam nosso psiquismo. É claro que o buraco é muito mais embaixo, mas conseguir observar o que se come e porque se come, já é um começo para entender-se. E lembre-se sempre de comparar o que sente com a fome que surge, se um quiabo não vai te fazer melhor neste instante, um croissant de chocolate também não.