Consolidado como o meio de pagamento mais utilizado pelos brasileiros, o Pix é o preferido dos comerciantes que optam pelo recebimento instantâneo e eficaz. Porém, a facilidade também abre brechas para que as transações sejam fraudadas ou que não tenham os destinos reais.
Na última semana, um gerente administrativo de supermercado de Passo Fundo foi alvo de um golpe de mais de R$ 1 mil. Com a identidade preservada por GZH, ele conta que os suspeitos entraram em contato com o WhatsApp da empresa e fizeram dois pedidos para serem entregues por um motorista de aplicativo. Ambos foram feitos com duas horas de intervalo e com envio de comprovantes adulterados para o atendente, que liberou a compra.
— Nós só fomos perceber no outro dia, quando fui fazer a conferência junto ao banco sobre os (pagamentos via) Pix feitos no dia anterior. Essas mesmas pessoas tentaram aplicar o golpe uma terceira vez, mas agora só entregamos com a checagem da entrada do valor na conta ou então apenas Pix presencial — relata o gerente.
Um caso parecido aconteceu no fim do ano passado com a empresária Alexia Escher. Proprietária de uma loja de doces em Carazinho, ela sofreu três golpes com comprovantes falsos, somando um prejuízo de R$ 400. Da mesma forma que o caso de Passo Fundo, os pedidos foram feitos e entregues sem contato presencial com a cliente, o que facilitou o roubo.
— A funcionária que atendeu não tinha acesso à nossa conta, então ela abriu os comprovantes e enviava os pedidos. Quando fechamos o caixa, vimos que havia um furo muito grande nas contas e que os valores de Pix que faltavam eram da mesma cliente — relata Alexia, que registrou um boletim de ocorrência.
Por causa dos golpes, os pedidos de devolução de dinheiro no Pix subiram 63% em 2023, na comparação com o ano anterior. Segundo o Banco Central, foram mais de 2,5 milhões de solicitações ao Mecanismo Especial de Devolução no ano passado. Ao todo, o valor dos pedidos somou R$ 4,3 bilhões, quase 43% a mais que o solicitado em 2022.
Esse golpe se enquadra no crime de estelionato e tem crescido em Passo Fundo, conforme avaliação do delegado Venícios Ildo Demartini, da 2° Delegacia de Polícia. Segundo ele, a orientação é que a população sempre registre as ocorrências para que os golpistas sejam devidamente identificados e investigados.
Dicas para os comerciantes
Além da atenção redobrada para verificar a entrada dos valores na conta, há também outras funcionalidades dos aplicativos de bancos e maquininhas para facilitar a transação. O mestre em computação e coordenador dos cursos de tecnologia da Atitus Educação, Marcos Roberto dos Santos, alerta para a facilidade em adulterar um comprovante de Pix e chama a atenção para a verificação da entrada do valor:
— Uma imagem de comprovante de Pix pode ser feita em qualquer computador, por pessoas até sem conhecimento tecnológico. O indicado nesses casos é sempre checar se a transferência foi feita e o que pode ser feito diretamente com o banco ou pelo aplicativo.
Uma forma de facilitar as rotinas dos comércios seria ativar as notificações de banco no telefone utilizado pelos funcionários. Os avisos podem ser por SMS ou push do próprio aplicativo. Desta forma, há a certeza que cada transação feita e recebida.
No caso das compras em que haverá contato entre empresa e cliente, mesmo que no momento da entrega, o professor indica o uso de QR Codes gerados nas máquinas de cartões.
— Indicamos sempre que os comerciantes utilizem do gerador de QR Code nas maquininhas, porque além de gerarem sempre um código diferente, ainda vão confirmar o pagamento gerando o comprovante impresso no mesmo instante. Isso faz com que o atendente que não tenha acesso à conta para checar e possa ver no momento da transação que ela foi feita de forma correta.
Atenção também para os clientes
Também há riscos do lado dos consumidores, para quem utiliza do pagamento via Pix. No ato da compra, é necessário sempre checar o banco e o nome do destinatário do valor, para comprovar que o dinheiro tenha um destino real.
No caso da impressão do QR Code em plaquinhas em grandes centros, o professor alerta para o possível adulteramento dos códigos, para enviar o valor para o local errado.
— Acontece de os criminosos alterarem esses códigos com destinos laranjas para que, na hora do pagamento, ao não verificar as credenciais do estabelecimento, pague para esse terceiro. Assim, quem paga não confere e envia dinheiro, e o comerciante não recebe o Pix por ser fraudado — explica.