O número de pacientes que usam a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) como prevenção ao vírus HIV dobrou em Passo Fundo entre 2023 e 2024. No ano passado, cerca de 130 pessoas retiravam os medicamentos no Serviço de Atendimento Especializado (SAE) do município, enquanto neste ano o número passou para 270.
A profilaxia consiste em comprimidos ingeridos antes da relação sexual que permitem ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV.
De acordo com a enfermeira e coordenadora do SAE, Seila de Abreu, o aumento na procura é importante para a redução de diagnósticos positivos.
— Hoje essa é uma das estratégias mais importantes e que vêm com muita força para a prevenção e diminuição da incidência da doença. Para quem se expõe muito em relações sexuais desprotegidas, use a PrEP para estar protegido do HIV — reitera.
A especialista ressalta, no entanto, que a profilaxia não protege contra outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Por isso, o uso de preservativo ainda é a proteção mais indicada — principalmente para evitar uma gravidez indesejada.
Há quatro anos, Carlos*, 35, faz uso da PrEP. Ele descobriu sobre o tratamento em conversa com seu médico, durante testagem rápida de rotina. A partir disso, passou a se informar em campanhas de conscientização.
— Desde que comecei a usar o PrEP, me sinto muito mais seguro em minhas relações. Acredito ser um método seguro e eficaz de prevenção, teve um impacto positivo na minha vida, trazendo tranquilidade. Antes eu ficava constantemente preocupado com o risco de infecção. É bom entender como o tratamento pode se encaixar na sua vida e quais os cuidados necessários — relatou.
Já a PeP (Profilaxia Pós-Exposição) é uma medida de prevenção de urgência para ser utilizada em situação de risco a infecção pelo HIV, existindo também profilaxia específica para o vírus da hepatite B e para outras ISTs. Em Passo Fundo, uma média de 20 pessoas fazem uso da PeP mensalmente.
O protocolo deve ser utilizado até 72 horas após qualquer situação em que exista risco de contágio, como:
- Violência sexual
- Relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com seu rompimento)
- Acidente ocupacional (com instrumentos perfurantes/cortantes ou contato direto com material biológico).
Atendimento descentralizado
Em 2024, o atendimento da PEP e PrEP foi descentralizado em Passo Fundo. Isso significa que todas as unidades de saúde estão capacitadas para atender os pacientes que buscam as profilaxias.
— Se você teve uma relação sexual desprotegida ou exposição que possa ter risco à infecção do HIV, ou é uma pessoa que está se expondo muitas vezes em relações desprotegidas, pode procurar qualquer unidade de saúde para fazer o atendimento e a prescrição adequada — explica Seila.
No caso da PrEP, a medicação deve ser retirada na sede no Serviço de Atendimento Especializado (SAE). Já a PeP pode ser administrada tanto no SAE quanto no Hospital Beneficente Dr. César Santos (Hospital Municipal).
Cenário de contaminação
Em 2023 o número de casos de HIV voltou a ser maior que o de aids, diferente de 2022, quando a curva se inverteu pela primeira vez em seis anos. São 40 diagnósticos de HIV e 38 de aids na cidade. Apesar disso, o número de diagnósticos de aids preocupa o setor de saúde do município.
— Os pacientes têm chegado para atendimento já muito doentes, magros e com doenças oportunistas. Isso acontece por causa da demora em detectar a presença do vírus, e essa detecção só pode ser feita pela testagem, por isso a importância de testar no mínimo uma vez ao ano — diz Seila.
Em 2023, conforme dados da secretaria municipal de Saúde, foram contabilizados 78 casos de HIV/aids. O total é 11% maior do que em 2022, quando foram 70 pacientes positivos. Os levantamentos epidemiológicos são sempre referentes ao ano anterior.
— A maior parte do público que positiva para a doença são homens com a vida sexual ativa, na faixa dos 20 aos 40 anos. Mas é uma doença que não escolhe quem infectar. Muitas vezes, pessoas casadas não testam por achar que estão seguras na relação, mas pode não ser o caso — alerta a coordenadora.
Mortalidade
Em 2023, Passo Fundo registrou diminuição no número de mortes por aids. Foi uma média de 7,8 óbitos a cada 100 mil habitantes, totalizando em torno de 16 mortes pela doença.
A redução é de cerca de 15% em relação ao ano anterior, que reportou uma taxa de 9,5 óbitos a cada 100 mil habitantes. Apesar da baixa, a taxa ainda fica acima da do Estado, que é de 7,6 mortes.
Diferença entre HIV e aids
O HIV é o vírus causador da imunodeficiência humana. Já a aids é a doença causada pela ação do vírus. O paciente soropositivo não necessariamente manifesta a doença, especialmente quando o diagnóstico é rápido, logo depois da infecção.
Com o tratamento correto, a pessoa portadora do HIV pode ter uma vida normal e saudável. No entanto, a evolução do quadro para a aids passa a comprometer gravemente o sistema imunológico, resultando em infecções oportunistas como a meningite, tuberculose e pneumonia.
* Usamos um nome fictício para preservar a identidade do paciente.