O Hospital Psiquiátrico Bezerra de Menezes (HPBM), o único em Passo Fundo, registrou mais de 15 internações por semana de 2018 a 24 de setembro de 2023. O número indica que foram pelo menos dois casos graves por dia de doenças psiquiátricas nos últimos cinco anos na cidade do norte do RS.
Cerca de 25% das internações psiquiátricas ocorrem em razão de agravo no quadro de pacientes com transtornos de humor, como depressão, bipolaridade e ansiedade. O dado tem como base um levantamento do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) sobre os atendimentos realizados no hospital psiquiátrico.
De modo geral, o uso de substâncias, como álcool, maconha e crack, tendem a elevar o agravamento do quadro psiquiátrico — e resultam em parte importante das internações no hospital de Passo Fundo.
— Um fenômeno que observamos é o aumento significativo (de internações) por uso de substância numa camada socioeconômica mais baixa, mas esse uso também aumentou com a pandemia — destacou Fernando Uberti, diretor-geral do Simers e coordenador do Núcleo Simers de Psiquiatria.
Segundo o médico psiquiatra e membro do corpo clínico do Hospital de Clínicas (HC) e do HPBM, Bernardo Dias Tams, a internação só acontece quando é necessário amenizar as crises do paciente — ou seja, em casos em que psicoterapia e medicação não dão conta, sozinhas, do quadro clínico.
— A internação é para tirar o paciente da crise e precisa de ser feita de forma mais aguda, com contenção medicamentosa. As pessoas em crise podem ter agressividade, impulsividade, sintomas fóbicos e ideação suicida. O objetivo é proteger o paciente e as outras pessoas — disse.
Transtornos psiquiátricos extremos são a principal causa de suicídios, especialmente casos graves de depressão. A internação, nesse caso, é uma forma de evitar que pessoas em momentos extremos tirem a própria vida.
— O Setembro Amarelo é importante, mas aqui temos a campanha "Saúde mental é assunto sério o ano todo", para abordar a discussão de forma mais ampla, especialmente nas escolas e empresas — pontuou Uberti.
O Hospital Psiquiátrico Bezerra de Menezes, que pertence ao HC, oferece 82 leitos para pacientes do município e região, sendo 50 pelo SUS e 32 privados ou por convênio.
Atendimento gratuito
Na rede pública de saúde, o acolhimento inicial aos pacientes psiquiátricos é feito pelas unidades de saúde nos bairros. Posteriormente, são encaminhados aos Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
Passo Fundo conta com três Caps. De acordo com o Simers, cada um realiza, em média, 28 atendimentos semanais. Confira quais são eles:
- CAPS infantil: foco do atendimento é em crianças e adolescentes com transtorno mentais (Quinze de Novembro, 1365 — Centro)
- CAPS II: atende, de forma prioritária, pessoas de todas as faixas etárias que apresentam intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e persistentes (Antônio Araújo, 1151 — Vila Rodrigues)
- CAPS AD: atende pessoas de todas as faixas etárias com problemas psíquicos decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas (Sete de Agosto, 511 — Centro)
O Centro de Referência de Saúde da Mulher e da População LGBTQIA+ também oferece os serviços e centraliza o atendimento a esses públicos específicos.
Procure ajuda
Caso você esteja enfrentando alguma situação de sofrimento intenso ou pensando em cometer suicídio, pode buscar ajuda para superar este momento de dor. Lembre-se de que o desamparo e a desesperança são condições que podem ser modificadas e que outras pessoas já enfrentaram circunstâncias semelhantes.
Se não estiver confortável em falar sobre o que sente com alguém de seu círculo próximo, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato.
O CVV (cvv.org.br) conta com mais de 4 mil voluntários e atende mais de 3 milhões de pessoas anualmente. O serviço funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados), pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil (confira os endereços neste link).
Você também pode buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no telefone 192, ou em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Estado. A lista com os endereços dos CAPS do Rio Grande do Sul está neste link.