A sensação de estar a minutos de passar por um procedimento cirúrgico pode deixar qualquer pessoa nervosa, mas quando quem vai precisar da intervenção é uma criança, a tensão do momento pode ser ainda maior.
Diante deste cenário, o Hospital de Caridade de Carazinho, no norte do Estado, desenvolveu um projeto para humanizar e descontrair os momentos que antecedem a cirurgia. Desde o dia 15 de maio, um carrinho elétrico com controle remoto é o transporte dos pequenos pacientes da sala de preparo até o bloco cirúrgico.
A ideia surgiu após uma conversa entre a gerente institucional, Larissa Giacomelli, e o médico otorrinolaringologista Gustavo Espanhol. Eles perceberam que muitas vezes as crianças já chegavam ao hospital preocupadas e quando viam os funcionários com roupas hospitalares, a tensão aumentava ainda mais.
A versão miniatura de um Audi TT foi doada por uma loja de brinquedos do município depois de um pedido do hospital. E desde a implementação, o carrinho já é considerado um sucesso.
— É uma forma lúdica de diminuir a tensão não só da criança, mas até da própria mãe. É uma criança pequeninha que está entrando para fazer uma cirurgia, uma coisa bem complexa e difícil, então isso tem nos ajudado bastante — pontua Larissa.
Antes do pequeno paciente estar a bordo do carrinho, ele recebe o "xaropinho", que faz parte da anestesia. Enquanto o remédio faz efeito, um enfermeiro ou o médico comanda o veículo usando um controle remoto e leva a criança para passear entre a sala de preparação e o bloco cirúrgico com os pais por perto. O trajeto, para as crianças, torna-se uma brincadeira até a hora do procedimento.
Médico aponta benefícios
Gustavo, que realiza cirurgias em crianças, foi um dos idealizadores do carrinho. O médico aponta que antes da adoção do brinquedo para levar os pacientes até o bloco, por vezes, era difícil conseguir acalmar as crianças para dar início ao procedimento.
Essa situação, segundo ele, surge pois as crianças, por vezes, têm trauma de ir até o hospital. Eles associam o ambiente e os uniformes dos funcionários a situações que exigem injeções e tratamentos, o que gera um trauma. A chegada do carrinho ajudou a romper este estigma:
— É muito importante, porque as crianças, na maioria das vezes, vêm estressadas para o hospital. Elas acabam até tendo dificuldades de passar para o centro cirúrgico. Ajudou bastante na parte lúdica, diminui a tensão, sem criar um trauma.
Além do ambiente, o médico diz que a presença do carrinho e a brincadeira são benéficos até no pós-operatório.
— Quando as crianças estão na sala de pós-operatório, na sala de recuperação, já acordam até melhor da cirurgia, e para ir pra casa, o que diminui o tempo para ganhar alta hospitalar — completa.
Ideia aprovada
O benefício de usar o carrinho foi comprovado pela família do Pietro, de dois anos. No dia 25 de maio, ele precisou realizar uma cirurgia da adenoide, que é considerada simples pelos médicos, mas, mesmo com esta informação, a família ainda estava tensa antes da operação.
O menino estava no colo da mãe e agitado, mas no momento que entrou no carrinho e começou a passear pelos corredores, a sensação de preocupação e tensão diminuíram.
— De ver ele bem, nós ficamos muito mais tranquilos. É bem criativa a ideia porque acalma a ansiedade e aflição que a gente sente — diz a mãe, Mara de Jesus Müller.
A mãe brincou que Pietro gostou tanto da iniciativa que quando saísse da cirurgia gostaria de andar de carrinho novamente.
— Com certeza se ele vir o carrinho, vai querer ir de novo.
Projeto é considerado um sucesso
Embora o projeto tenha começado há poucas semanas, os reflexos dos benefícios aos pequenos pacientes já são vistos e celebrados pelas equipes médicas e administrativas do hospital.
— Se com uma criança a gente conseguir o objetivo, está realizado. Mas quantas mais pudermos atingir, a gente fica mais realizado ainda. A nossa ideia como hospital é atender bem a todos os nossos pacientes, inclusive os nossos 'pacientinhos' — diz a gerente.
O mini Audi TT está disponível para todas as crianças, tanto aquelas que passam por procedimentos através do SUS, quanto as que são atendidas pelo sistema particular.