Depois do drama de ser transferida para um hospital de Chapecó, em Santa Catarina, por causa da falta de vagas em UTIs Neonatais do Estado, a gestante Márcia Andreia de Almeida vai ser removida novamente. Desta vez, a paciente vai para o Hospital de Clínicas em Passo Fundo.
Com 32 semanas de uma gestação de risco, a moradora de Seberi, no norte do RS, precisou entrar na Justiça para garantir um leito. Sem vagas disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos hospitais do Estado, ela foi transferida, no sábado (11), da Fundação Hospitalar Pio XII para o Estado vizinho, distante 128 quilômetros de Seberi.
Essa nova transferência foi possível porque a taxa de ocupação das UTIs Neonatais do RS diminuiu. Na segunda-feira (13), a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informou que operava com 110% da capacidade de leitos. Na manhã desta terça-feira (14), a ocupação diminuiu, mesmo assim, se mantendo elevada, em 95%.
— Hoje, no Rio Grande do Sul, são 236 leitos de UTI Neonatal e 45 leitos de UTI semi-intensiva e o número é compatível com os parâmetros internacionais do Ministério da Saúde. O que precisamos é diminuir a média de leitos bloqueados, que, em geral, gira em torno de 10%. Às vezes, manutenção da rede elétrica, de sistemas de dutos de gases, às vezes reserva de leitos de algum pacientes que esteja em vias de um nascimento prematuro, são diversos fatores que bloqueiam os leitos de uma UTI Neonatal — afirma Eduardo Elsade, diretor do departamento de regulação da SES.
Segundo o diretor, a rede privada deveria aumentar o número de leitos.
— Na verdade, a rede de leitos privados neonatal no Rio Grande do Sul é que deveria ser aumentada. Temos, em diversas regiões, muitos pacientes privados e pacientes de convênio ocupando leitos SUS. Sempre a rede privada estoura o número de leitos antes da rede SUS — salienta Elsade.
Nós entramos em contato com a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do Rio Grande do Sul, que representa os hospitais particulares, mas até a publicação dessa reportagem não recebemos um retorno.
Em Passo Fundo, o Hospital de Clínicas, um dos principais da região, precisou adaptar um espaço pra atender os recém-nascidos. O local tem 10 leitos de UTI Neonatal, mas atualmente está com 15 bebês internados. Para atender a demanda, uma sala que antes era usada para guardar equipamentos foi adaptada para receber os pacientes.
— Temos toda a rede de oxigênio, ar comprimido e todo o material necessário para atendimento dessas crianças, e ali nós colocamos três bebês e deixamos 12 crianças que acabamos diminuindo espaçamento entre os leitos para que pudéssemos assistir a todos os pacientes devido à alta demanda. Então, dentro do possível e muitas vezes do impossível, tentamos acomodar todas as crianças, sempre priorizando o bom atendimento a elas — explica Giovana Belke, coordenadora médica da UTI Neonatal do Hospital de Clínicas de Passo Fundo.
No Hospital São Vicente de Paulo, também em Passo Fundo, as 20 vagas da UTI Neonatal estão ocupadas. A situação se repete em diferentes regiões do Estado, conforme relata o presidente da Associação Gaúcha de UTI Neonatal e Pediátrica, Clayton Braga Corrêa. Nos últimos seis meses, cerca de 40 famílias procuraram a ajuda da associação para conseguir um leito via judicial.
— O Rio Grande do Sul está em colapso com a saúde infantil pela falta de leitos de UTI Neonatal e também Pediátrica. Atendemos casos de todo o Estado, desde Pelotas, Rio Grande, região da Fronteira. A situação que a gente tem monitorado é apavorante — afirma Clayton.
Quem passou pelo drama de precisar esperar quase 24 horas para conseguir um leito lamenta que mais pessoas tenham que passar por isso.
— Eu não desejo isso nem pro meu pior inimigo... Receber uma notícia que tu pode perder tuas filhas por não ter uma vaga é uma coisa que eu achei que nunca ia passar na vida. Agora a nossa apreensão é que dia que vai ser o nascimento das moças, pra gente poder pegar elas no colo... — se emociona o marido de Márcia e pai das gêmeas, Rafael Mazzonetto.
GZH Passo Fundo
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