Por Jocélio Cunha, presidente do Hospital de Clínicas de Carazinho
Segundo a Defesa Civil do Estado do RS, quase 2,4 milhões de gaúchos foram afetados diretamente em 476 municípios pela maior tragédia climática de nossa história. Com a baixa dos níveis das águas, a população começa a retornar as suas casas e o clima de desolação é muito impactante. Pessoas perderam familiares, amigos, animais e também tudo o que construíram ao longo de décadas de trabalho. As cenas reproduzidas em redes sociais e em veículos de comunicação parecem retiradas de filmes de guerra.
Para reconstruir o RS será necessária toda ajuda possível e vai levar um tempo para que o Estado consiga se recuperar de toda essa tragédia. Tivemos, durante o seu auge, o apoio importantíssimo de muitas pessoas, empresas, instituições, poder público de vários estados do país, todos imbuídos em salvar vidas e ajudar de todas as formas possíveis à população gaúcha.
Muitas empresas gaúchas — de todos os portes, desde a pequena empresa do bairro até conglomerados empresariais — também foram afetadas diretamente. Para salvar empregos e restaurar a arrecadação de impostos, essas empresas irão precisar de forma urgente de uma ação imediata e contundente do governos do Estado e da União.
Demanda de R$ 110 bilhões em investimentos
A Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), através de sua divisão de Economia, estima que será necessário mais de R$ 110 bilhões em investimentos para reconstruir a infraestrutura perdida devido à catástrofe. A projeção leva em consideração informações históricas do governo federal, estimativas de mercado com base em infraestrutura e dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). E, justamente pelo impacto que os números representam em nossa economia, precisamos que esses recursos extraordinários aportem com urgência para a reconstrução do RS.
Na última segunda-feira (3), uma iniciativa da Federasul, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS) e demais federações empresarias do RS reuniu lideranças gaúchas com a bancada federal gaúcha de deputados e senadores, além de parlamentares estaduais e representantes do governo do RS. Durante o encontro, realizado na Assembleia, em Porto Alegre, foram debatidas ações emergenciais necessárias para viabilizar investimentos e linhas de créditos extraordinárias para a manutenção das empresas e dos empregos de todos os gaúchos afetados diretamente com as enchentes.
A OAB-RS também se mobiliza fortemente para o reconhecimento de que a dívida do RS com a União seja declarada extinta, uma vez que esta dívida já estaria devidamente quitada, segundo critérios técnicos contábeis e legais, em uma ação específica que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) desde novembro de 2012. A dívida atual do Estado do RS com a União é estimada em mais de R$ 100 bilhões.
"Momento requer forte união de todos"
Com a tragédia que vive o RS, o maior produtor de arroz do Brasil, responsável por cerca de 70% da produção nacional, o governo federal decidiu importar 300 mil toneladas de arroz, cuja estimativa de investimento será de R$ 7 bilhões. Tal situação gerou fortes críticas de parlamentares e lideranças gaúchas, pois é exatamente neste momento que os produtores rurais gaúchos mais precisavam de apoio do governo federal.
A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) divulgou nota técnica manifestando preocupação com a situação, pois diante da devastação causada pelas enchentes e da necessidade urgente de reconstrução do Estado do RS, as medidas do governo federal parecem descabidas e imprudentes, visto que impactará diretamente na arrecadação de ICMS no Rio Grande do Sul.
O momento que passa o RS requer uma forte união de todos: entes políticos, sociedade civil organizada, instituições, pessoas e organizações. O único foco sem dúvida deve ser a solidariedade e a reconstrução do RS. Não é hora de politizarmos a situação que passam os gaúchos. O momento exige comprometimento de todos a fim de amenizar o sofrimento e os prejuízos desta grande tragédia histórica.
Jocélio Nissel Cunha é presidente do Hospital de Clínicas de Carazinho (HCC), vice-presidente da ACIC Carazinho e membro do Conselho Superior da Federasul.