Olhar cuidadoso, de atenção e acolhimento. Este é o espaço pedagógico Centro Pós-Covid de Combate à Desigualdade Educacional, local de atendimento para os estudantes da rede de ensino municipal que apresentem qualquer tipo de dificuldade na aprendizagem. Atuante na cidade há oito meses, tornou-se um braço da rede municipal, e recebe alunos encaminhados pelas 72 escolas da cidade.
Desde a inauguração até janeiro de 2023, foram realizadas mais de 10,3 mil sessões de atendimentos, nas diversas áreas oferecidas. No total, foram encaminhados pelas escolas 1.645 alunos, e até o momento, chamados cerca de 900 crianças.
— O centro vem de uma necessidade de termos uma equipe multidisciplinar para olhar cada caso a partir de diferentes perspectivas. É um dos eixos de combate à desigualdade educacional, que são aquelas crianças que não conseguem ser atendidas pelo professor nem pela sala de recurso, pela complexidade do seu quadro, então eles vão para o grupo interdisciplinar, com visão mais multifacetada — explica o secretário de educação do município, Adriano Canabarro Teixeira.
Atendimentos
Todos os alunos precisam ser encaminhados pela escola após identificado em sala de aula a dificuldade no processo educativo. A direção entra em contato com os responsáveis para oferecer o serviço, e encaminha a demanda para o centro.
Uma vez no centro, o aluno passa por uma triagem, em que é atendido por profissionais contratados da área da saúde e concursados da pedagogia. Todos são atendidos inicialmente pela médica pediatra, que analisa se realmente existem processos de atraso no desenvolvimento, ou se são questões específicas de aprendizagem ou de atrasos motores. Depois disso, o atendimento é adequado para cada caso.
A coordenadora do centro Rochele Tondello da Silva explica que, pela alta demanda e baixa capacidade de atendimentos simultâneos, os tratamentos são periódicos. Caso seja detectada a necessidade de um acompanhamento constante, os profissionais fazem o encaminhamento para outro local parceiro.
— Como atendemos as 72 escolas do município, não temos condição de permanecer com a mesma criança todo o ano. Então os profissionais precisam avaliar, detectar e impulsionar essa aprendizagem. Se necessário continuar com um especialista, a gente encaminha, conversa com os pais. Se não, a criança retorna para a escola, potencializada e sabendo que dá conta da aprendizagem — afirma Rochele.
O modelo do centro foi feito, inicialmente, para suprir a demanda daqueles que apresentavam dificuldades em acompanhar as aulas em modo remoto durante o período de distanciamento social impostos pela pandemia de Covid-19. Por meio de decreto, o funcionamento está garantido pelo período de dois anos a partir da publicação do documento, que extingue em dezembro de 2023. Com o alto número de diagnósticos e atendimentos, é possível, agora, que o centro se torne permanente.
— É uma política pública que sem dúvida deu certo, então a probabilidade é que mesmo com o prazo da lei se extinguindo, seja algo que tenha continuidade — informa o secretário de educação.
As áreas de atuação
Decorado com a temática da astronomia, o espaço do Centro Pós-Covid é lúdico e interativo, repleto de brinquedos e cores nas paredes, tudo pensado para tornar esse momento de tratamento o mais leve e acolhedor possível para as crianças.
Entre o quadro de profissionais, estão um médico pediatra, quatro profissionais da psicologia, uma psicopedagoga, um profissional para psicomotricidade (que trabalha as questões de atrasos motores), um fisioterapeuta e dois assistentes sociais (que acolhem a família).
Entre os setores, há salas para apoio pedagógico, de estimulação precoce e voltada para altas habilidades, com intervenções em diversas áreas do conhecimento. No caso dos alunos que já demonstram alto potencial, mas sem uma área específica, o tratamento oferece vários estímulos e identifica a área de facilidade, como explica o psicólogo, Alisson Júnior Cozzer, que trabalha na suplementação de crianças de altas habilidades:
— Identificamos aquela criança que tenha facilidade em áreas específicas e a gente suplementa, estimula e potencializa. Por exemplo, se ela tem muita facilidade com números, dinossauros ou temas específicos, a gente foca para trabalhar a partir disso, para estimular ainda mais essas habilidades.
De acordo com o psicólogo, o diagnóstico das altas habilidades pode ser feito na infância, porém, com maior cautela para identificar se não se trata de uma precocidade ou um estímulo dado pelos pais em determinada área. Nos casos dos alunos de fundamental I e II, de idades entre 7 e 14 anos, o alto potencial já é demonstrado, e o tratamento oferece inúmeras possibilidades para identificar a área de facilidade e potencializar.
Cenário
De acordo com a coordenadora, a demanda mais observada entre os alunos atendidos é a dificuldade do processo de aprendizagem em função de transtornos como dislexia, transtorno opositivo desafiador, déficit de atenção e hiperatividade. Em muitos casos, as escolas têm dificuldade em entender e diagnosticar a forma diferente como essas crianças aprendem, por isso, a ideia para este ano é uma maior proximidade com as coordenações.
— O que queremos mostrar para a escola é que nem todos aprendem da mesma forma, e essa criança precisa ser vista de maneira diferente. O processo de aprendizagem não depende só dele, mas sim da metodologia e de tudo que a gente oferece. Nós, enquanto rede, queremos mostrar que essas crianças conseguem, mas elas precisam desse olhar atencioso e se empoderarem na aprendizagem — salienta Rochele.
Na sala de espera para o primeiro atendimento estava o cabeleireiro Eduardo Theis, 33 anos, acompanhado do filho Arthur Theis, de quatro anos. Eles foram encaminhados pela escola e ainda realizam as primeiras consultas no Centro, que devem definir o tratamento mais correto para o pequeno.
— Ainda vamos ver o que vai ser diagnosticado, para que a gente possa encaminhar para o tratamento correto. Mas a equipe aqui é muito boa, eles correm atrás e nos acalmam — avalia o pai.
Vagas abertas para profissionais
Há vagas disponíveis para quatro áreas de abrangência do Centro Pós-Covid. Serão contratados profissionais da fonoaudiologia, psiquiatria, neurologia e terapia ocupacional. As inscrições estão abertas até o domingo (5), e o edital pode ser consultado no site da prefeitura.
O centro fica localizado na Rua Antônio Araújo, região central de Passo Fundo.
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