Por Nadja Hartmann, jornalista
Como tradicionalmente acontece, o lançamento da Expodireto Cotrijal, na última segunda-feira (5) em Porto Alegre foi prestigiado por um grande número de autoridades e políticos de todo o Estado. Apesar da preocupação do presidente da feira, Nei César Mânica, de primar pela diplomacia nestas ocasiões, os pronunciamentos sempre acabam servindo de oportunidades para mandar recados para os governantes. Durante o seu discurso, ao mesmo tempo que solicitou uma salva de palmas ao governador Eduardo Leite, Mânica pediu “sensibilidade” do governador nos “encaminhamentos tributários” para que o agronegócio não seja prejudicado, se referindo ao corte de incentivos fiscais que deve causar grande impacto no setor. Dos 20 segmentos que perderão maior volume de incentivos, 14 tem relação direta com a agricultura. Produtos como rações, herbicidas, sementes e agroquímicos, que hoje não sofrem nenhum tipo de oneração, passarão a ser taxados a partir de abril. Mânica fez questão de ressaltar a importância do diálogo entre o setor produtivo e o governo, “visando encontrar soluções que beneficiem os agricultores e não prejudiquem a sociedade como um todo”.
Réplica
Apesar da reivindicação do presidente Mânica ter sido proferida em tom diplomático e sutil, a réplica do governador, no entanto, não primou exatamente pela sutileza. Eduardo Leite ocupou grande parte do seu pronunciamento para falar das dificuldades fiscais do Estado, em um esforço claro para justificar a necessidade do decreto. Em resposta à referência de Mânica, dele ser um homem “sensível e de diálogo”, disse que sensibilidade não lhe falta. “Todos me pedem para eu tratar os pedidos com carinho e sensibilidade. Isso não me falta. O que me falta é recurso”, declarou.
“Chamada extra”
Após apresentar números e cifras que representam desafios para o caixa do Estado, como o pagamento de R$ 16 bilhões de precatórios até 2029, o governador afirmou que a crise ainda é uma realidade. “Passamos a conviver melhor com a crise, mas ela continua como uma espada em nossas cabeças, 90% do tempo do governo é para desarmar bombas. Por isso, precisamos discutir com sensibilidade, mas também com responsabilidade”, disse, comparando o Estado a um condomínio, que volta e meia precisa de uma “chamada extra dos condôminos”. Inclusive nesta quarta-feira (7), lideranças empresariais de todo o Estado estarão reunidas em Porto Alegre no sentido de reforçar a mobilização em defesa da manutenção dos incentivos.
Propriedade privada
Diante da opção do governador de fazer um discurso que ele mesmo chamou de “realista”, mas que soou bastante duro para a ocasião, as palavras de Leite acabaram contrastando com o otimismo que marcou os demais pronunciamentos, o que, aliás, deve ser a tônica na solenidade de lançamento de uma grande feira, que precisa da confiança dos produtores para alavancar os negócios. Aliás, o “realismo” do pronunciamento fez com que o governador fosse aplaudido — espontaneamente — somente uma vez durante os mais de 15 minutos de fala. Foi quando ele garantiu que o governo continuará sendo rígido no respeito à propriedade privada.
Projeto “arrojado”
Outro recado dado por Nei Mânica durante o lançamento teve como alvo a bancada gaúcha. O presidente pediu apoio, em especial, dos deputados da região para a liberação de uma emenda de R$ 3 milhões que será investida na obra de deslocamento do asfalto, o que possibilitará a ampliação do parque em Não-Me-Toque. O projeto “arrojado”, segundo Mânica, terá um custo total de R$ 11 milhões e deve contar também com recursos do governo do Estado. Representando a Câmara Federal, o deputado Pedro Wetsphalen (PP) adiantou que o pleito contará com o apoio da bancada gaúcha. Dos deputados da região norte do Estado, apenas Ronaldo Nogueira (Republicanos) esteve presente no evento.
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