A ONG Brasil Mais Verde, de Engelho Velho, levantou fundos para replantar áreas desmatadas no município do norte gaúcho. Membros da entidade trabalham desde a última sexta-feira (31) para plantar 11 mil sementes de araucárias, adquiridas por oito famílias indígenas envolvidas no projeto.
Junto à Emater, o grupo mapeou mais de 500 hectares que poderão receber o plantio no município de quase 1,3 mil habitantes. De acordo com o integrante da organização, Alvacir Aimi, a ONG foi fundada para resgatar nascentes dos rios e, junto a isso, realizar o plantio de árvores nativas e frutíferas a fim de enriquecer a fauna e a flora de locais degradados.
— A iniciativa partiu de duas famílias indígenas e outras também quiseram participar. Arrecadamos recursos entre nós e viajamos cerca de 170 quilômetros para comprar as sementes. Todo o trabalho é voluntário e nosso objetivo é recuperar o local, que é importante para as comunidades — disse Aimi.
Emblemática no sul do país, a araucária é considerada uma espécie ameaçada de extinção. O motivo é a exploração econômica extensa no começo do século 20, já que a madeira do caule foi um dos principais produtos de exportação do RS, como explica o doutor em Ecologia e professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Jaime Martinez.
— Todos achavam que as araucárias não acabariam, no entanto, 30 anos de ciclo foi o suficiente pare reduzir drasticamente a extensão das florestas. Hoje, o que restou é algo entre 3% e 5% do que havia originalmente, então todas as iniciativas para recuperar essa espécie são muito importantes — ressaltou.
Importância do pinhão
Conforme Martinez, a sociedade se adaptou para aproveitar os recursos oferecidos pela árvore sem desmatá-la fazendo a colheita da sua semente, o pinhão. Além de economicamente significativa, a araucária é uma espécie-chave para a conservação da fauna silvestre.
— O pinhão é um alimento muito importante, por exemplo, para o papagaio-charão, papagaio-de-peito-roxo, da gralha-azul e outros, mas não só de aves, também entre mamíferos. Nesta nova etapa da nossa relação com a araucária seria mais interessante deixar o pinhão natural na fauna silvestre e consumir aquele que é fruto das plantações controladas — acrescenta.
As araucárias levam em torno de oito anos para produzir frutos, tempo que reduziu a partir da propagação de uma variedade da espécie, identificada em pesquisas. Antes, a espera ficava entre 15 e 18 anos, fator que tornava o plantio pouco atrativo para produtores.
Neste ano, segundo a Emater, o Rio Grande do Sul deve ter de 500 a 650 toneladas da semente em 2024 — 50% a menos do esperado para anos considerados normais (de 1 mil a 1,2 mil tonelada), mas ainda acima da estimativa anterior, que previa apenas 200 toneladas da iguaria.