Identificado pelas cores verde e vermelha, o papagaio-charão pode ser encontrado em várias partes do Rio Grande do Sul. Já foi visto próximo a Santana do Livramento, na região da Campanha e no norte do Estado, onde fica a maior concentração das aves.
No período de março a julho elas fazem o processo de migração para cidades de Santa Catarina, especialmente Urupema, onde buscam a sua principal fonte de alimento, o pinhão.
Segundo o biólogo e pesquisador da Universidade de Passo Fundo (UPF), Jaime Martinez, isso ocorre porque no território gaúcho existe pouca oferta da semente.
— Atualmente existe entre 3% e 4% de cobertura original das florestas com araucárias e o estado vizinho acaba suprindo a demanda. São dias de viagens em busca desses pinheiros, macho e fêmea lado a lado — disse o pesquisador.
Os papagaios voltam até a primeira semana de agosto, quando começa uma outra etapa importante na continuidade da espécie: a reprodução.
Sobrevivência e reprodução
Eles buscam árvores ocas que servem de ninho e protegem de predadores. Com o apoio de produtores rurais, caixas de madeiras que simulam os espaços também são instaladas e auxiliam os animais no processo. É uma forma de contribuir para que a população continue crescendo. Uma única fêmea pode colocar até quatro ovos.
— Nós tínhamos algo em torno de oito a 10 mil papagaios. Combatendo fatores de ameaça, como a captura de filhotes para ter como animais de estimação, conseguimos melhorar muito a população do papagaio-charão — salienta Martinez.
O professor Jaime, junto com a esposa, Nêmora Prestes, que também é bióloga, estuda há 32 anos o comportamento dos animais. Eles idealizaram o Projeto Charão e monitoram as aves no período de migração, assim como a matéria-prima do alimento.
— A gente sempre diz que tem pinhão para todo mundo, né? E o homem, apesar de explorar bastante a Araucária, não consegue retirar todas as pinhas. Cerca de 30% fica para o papagaio-charão, para o papagaio-de-peito-roxo e gralhas. Ou seja, temos mais de 70 espécies que acabam se beneficiando — pontuou Nêmora.