A reconstrução das cidades gaúchas após enchentes depende de um ecossistema que reúna a energia de todos: população, empresários, universidades, organizações sociais e governo. Essa é a visão de Santiago Uribe, antropólogo colombiano que coordenou o projeto Cidades Resilientes — iniciativa que tirou Medellín do mapa das cidades mais violentas do mundo.
Em Passo Fundo, ele participou de uma agenda na tarde desta terça-feira (4) com os associados e fundadores do Instituto Aliança Empresarial para discutir sobre o programa Novos Horizontes 360°, que oferece novas oportunidades às famílias atingidas no Rio Grande do Sul.
Segundo Uribe, da experiência de Medellín o Rio Grande do Sul pode tirar a necessidade de troca de conhecimento e que muitas forças de trabalho se unam pelo mesmo objetivo.
— É importante que os empresários, as universidades, as organizações sociais e também o governo criem um ecossistema e trabalhem juntos. Depois que criarmos toda essa infraestrutura social, haverá a necessidade da participação dos cidadãos. O objetivo é que todos tenham um acordo social sobre este objetivo em comum e que pensem nas ações que devem ser feitas para chegar lá — disse.
As mudanças que ajudaram a reduzir os altos índices de criminalidade de Medellín passam por acesso à tecnologia, melhor infraestrutura, centros e projetos de desenvolvimento econômico e humano voltados à periferia. Com um olhar atento para este lado da cidade, é possível desenhar estratégias que contemplem o processo de inclusão social.
— É importante identificar hoje os setores com grandes problemas de desigualdade e tratar de desenhar soluções criativas de urbanismo e inclusão social para resolver e incluir essas comunidades como parte do sistema urbano. Se é uma inovação tecnológica que apenas incrementa as desigualdades sociais, não é uma boa inovação — pontua.
Inovação e futuro
Ao ser questionado sobre inovação e futuro, Santiago resume a resposta em uma palavra: jovens. Segundo o antropólogo, a inovação procura os jovens e o diálogo intergeracional é fundamental para que os objetivos da comunidade sejam concretizados no futuro.
— Os jovens não são o problema, eles são parte ativa hoje da sociedade e procuram espaço para falar, para expressar sua diferentes visões do mundo, mas também procuram poder transformar a cidade e são eles que conhecem as ferramentas para realizar essas mudanças — afirmou Uribe.
Por isso, é essencial que os representantes que hoje ocupam cargos no poder público compreendam que as mudanças em uma cidade vão muito além de apenas um período de governo, reiterou o especialista.
— Não importa que partido seja, é importante que (o poder público) dê continuidade a um processo de transformação, que ele abrace essa mudança. Se todos fizerem parte de uma grande projeto de desenvolvimento eles se tornarão uma chave que abre uma nova porta ao desenvolvimento. A reconstrução do Rio Grande do Sul precisa da energia de todos.
Programa Novos Horizontes 360°
O projeto liderado por Uribe, Cidades Resilientes, é uma das fontes de inspiração da iniciativa Novos Horizontes 360°, criada em Passo Fundo com o objetivo de proporcionar um novo projeto de vida para famílias afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
O programa conecta oportunidades em áreas como emprego, moradia, educação, saúde, segurança, qualificação, apoio psicológico e acolhimento, como explica Márcia Capellari, diretora institucional do Instituto Aliança Empresarial, que está à frente da iniciativa.
— A gente viu uma força gigante do voluntariado, mas precisamos ter capacitação até mesmo para ser voluntário. Nós precisamos pensar em toda a rede. Nosso papel não é resolver o problema como um todo, mas sim contribuir para uma pequena participação da solução pra gerar mais conforto e mais segurança para as pessoas que merecem recomeçar a partir de um ambiente colaborativo de apoio humano — disse.
O programa tem adesão do município de Marau e conta com a parceria do Instituto Hélice e Fundação Marcopolo, de Caxias do Sul.