A devastação causada pelas enchentes no RS uniu a população de Passo Fundo, no norte gaúcho, em solidariedade: assim que vieram os primeiros relatos de mortes e estragos, não demoraram a surgir movimentos para doar, cozinhar, transportar e arrecadar o que for necessário para ajudar as famílias atingidas. Seja em abrigos ou isolados em casa, milhares de pessoas dependem dessas doações para sobreviver.
No bairro Vila Nova, uma ação tem mobilizado voluntários de diferentes partes da cidade na produção de comida e lanches. Até agora, já foram entregues 3,5 mil marmitas, 15 mil sanduíches e 500 fardos de água para os locais mais prejudicados. Os destinos foram as cidades de Encantado, Roca Sales, Muçum, Sobradinho, Putinga e Cruzeiro do Sul.
— Nós já temos o projeto Equipe do Bem há muitos anos, e agora, sentimos a necessidade de fazer a nossa parte mais uma vez. Havia esse medo da chuva que poderia interromper um pouco do trabalho, já que as entregas não podem demorar para serem feitas, mas felizmente o tempo ajudou hoje — disse uma das coordenadoras do projeto, Elizete Simor, enquanto auxiliava na produção de quinta-feira (9).
O trabalho acontece na Associação da Moradores da Vila Nova, onde cerca de cem voluntários se dividem em diferentes funções todos os dias desde a primeira semana de maio. Com toucas na cabeça, para manter a higiene dos alimentos, mulheres e homens de todas as idades preparam almoços, montam sanduíches e empacotam embalagens.
Carmen Luiza Da Silva, de 65 anos, é uma das voluntárias que preenchia os potes de marmita com o cardápio do dia: arroz, carne moída e batatas. Ela chegou ainda de madrugada no salão para ajudar a separar as doações de alimentos que seriam usados.
— Eu venho lá do bairro Petrópolis para ajudar, o trabalho aqui é muito importante e toda ajuda é bem-vinda, seja de doações ou de voluntários. Começamos cedo porque até às 10h temos que preparar os sanduíches, para daí já iniciar a montagem das marmitas — conta a aposentada.
Como ajudar
- A Associação Moradores da Vila Nova aceita doações ou ajuda no trabalho
- O que doar: no momento, os produtos mais necessários são água, pão, queijo, presunto, arroz, farinha, carne moída ou de frango.
- Onde: Rua Manoel Becker, n° 42, na Vila Nova
- Contato: (54) 98426-2258 - WhatsApp da presidência do projeto
Voluntariado também separa doações na Paróquia Sagrado Coração de Jesus
Do outro lado da cidade, a Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Rua Paissandú, também tornou-se ponto de trabalho de voluntários. Divididos em vários segmentos, como montagem de kits para crianças, para mulheres, triagem de roupas e cozinha, cerca de 50 pessoas trabalhavam na manhã de sexta-feira (10).
Até agora, pelo menos 8 mil marmitas já foram enviadas para as cidades mais atingidas. A chefe de cozinha Ana Paula Bettinelli é quem coordena o setor desde 2 de maio e empresta seu conhecimento na gastronomia para elaborar o que é ideal às famílias que dependem dos alimentos.
— A gente prioriza alimentos que rendam bastante e que sejam de fácil cozimento. Arroz, massa, frango, linguiça, atum, legumes... Mandamos refeições completas. Tem muita gente dedicada, é bonito de ver, estamos muito organizados para entregar o máximo possível — relata a voluntária.
No momento, a solicitação mais urgente é doação de itens de limpeza e higiene, inclusive fraldas geriátricas. No entanto, alimentos e roupas também são bem-vindos e encontram destinação garantida.
— Agora as cidades estão em fase de limpeza e reconstrução, então materiais nesse sentido são muito necessários. Voluntários também podem vir até nós, temos as ilhas montadas, e a gente encaminhada para onde mais necessita de ajuda — reitera a coordenadora da ação no local, Paula Scorsato.
Como ajudar
- Onde: Paróquia Sagrado Coração de Jesus (Rua Paissandú, n° 528 — próximo ao Hospital de Clínicas de Passo Fundo)
- Contato: (54) 99109-4881 ou (54) 99620-8816 - WhatsApp
Pessoas constroem rodos para limpeza do lodo nas cidades
Com a falta de materiais para limpeza disponíveis para compra em Passo Fundo, grupos da cidade se reuniram para produzir esses utensílios. Desde o começo da semana, rodos de madeira passaram a ser fabricados por voluntários e empresários para serem doados às cidades atingidas pelas enchentes.
No bairro São José, moradores de um condomínio fizeram 100 rodos com ajuda de uma serra e peças de madeira cortadas. Eles montaram a estrutura para limpeza e fixaram em cabos já prontos. Todos foram enviados para o Vale do Taquari, nas cidades de Arroio do Meio e Roca Sales, onde ainda há lama a ser retirada da cidade.
Já a empresa JR Comércio de Cimentos fabrica os materiais com mão-de-obra de voluntários. Até sexta-feira (10) foram feitos e doados cerca de 1,2 mil rodos de madeira. Entre os destinos, as cidades de Arroio do Meio, Muçum, Encantado, Novo Hamburgo, Roca Sales e Guaporé.
— Entendemos que seria necessário um rodo robusto para tirar a quantidade de lodo que acumulou nas cidades e tínhamos capacidade e material para fazer. Organizamos pessoal e casas a serem limpas, e assim que divulgamos, foi impressionante o número de pessoas que nos pediram esse material — relata o diretor, Jonatas Andreetta.
A empresa ainda fará mutirões no sábado e na segunda-feira. Interessados em ajudar, podem se apresentar no Centro de Distribuição (Av. Perimetral Coronel Jarbas Quadros Da Silva, 1810 São Cristóvão).