A previsão de que Passo Fundo voltaria a vender gás natural veicular (GNV) até o fim de 2023 não se confirmou. Uma rede de postos pretendia iniciar a comercialização do combustível, mas desistiu da operação no ano passado e não tem previsão de oferecer o serviço.
O motivo, segundo o diretor comercial da rede Tradição, Matheus Brugnera, foi o preço médio do produto, que deixou de ser atrativo depois da nova política de preço da Petrobras sobre a gasolina. Isso teria inviabilizado o projeto, uma vez que o preço do GNV ao consumidor final seria praticamente o mesmo do combustível líquido.
Antes disso, o GNV proporcionava rendimento até 30% acima do litro da gasolina. Na prática, se o carro andava 10 quilômetros por litro com gasolina, fazia 13 quilômetros com um metro cúbico de gás. Desse modo, se o metro cúbico do GNV estiver 20% mais barato que a gasolina, a economia poderia chegar a 50% com o produto.
No entanto, a instabilidade do preço do produto e o investimento para o início da operação — que, segundo Brugnera, ultrapassaria R$ 1 milhão — tornaria a operação arriscada em termos comerciais e financeiros, pois a diferença seria mínima entre o valor pago pelos motoristas entre a gasolina e o GNV.
Outros fatores, como logística e custos com energia, poderiam encarecer ainda mais o valor do produto para o consumidor final. O valor pago pela eletricidade, por exemplo, aumentaria a operação em R$ 10 mil e R$ 15 mil, uma vez que o compressor precisa operar permanentemente.
— O fato da região não ter dutos para o recebimento do produto como na Região Metropolitana e Caxias do Sul faria com que o GNV chegasse somente por caminhões. Então acreditamos que isso inviabilizaria a comercialização do GNV na unidade com preço competitivo. Esses são custos que entram durante o negócio e acabamos tendo que dissolver no preço médio final — disse o diretor dessa rede de postos.
O preço médio do metro cúbico de GNV está em R$ 4,55, cerca de R$ 1 a menos que a média do valor cobrado pelo litro da gasolina. Segundo a Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul (Sulgás), atualmente, as cidades mais próximas com disponibilidade de GNV são Santa Cruz do Sul, Lajeado, Bento Gonçalves e Caxias do Sul.
GNV em 2025
Depois da desistência dessa rede em dar sequência à venda de GNV, uma nova empresa sinalizou interesse de comercializar o produto em Passo Fundo. Desde 2018 na cidade, a rede de postos Carga Pesada pretende iniciar a venda do GNV até janeiro de 2025, afirmou o diretor da empresa Henrique Sudbrack. Segundo ele, já foram solicitadas as licenças para a execução do projeto.
A expectativa é superar as adversidades do mercado com o volume de clientes que eles esperam receber, uma vez que a política da empresa é operar com preços menores no mercado e, assim, atrair quantidade maior de vendas, disse Sudbrack.
— A intenção é tornar Passo Fundo como município referência, para que todo motorista com GNV que passar no lado norte do estado saiba que aqui tem preço bom e queira abastecer — disse.
Questionada, a concessionária Sulgás afirmou que está em tratativas com uma rede de postos para retomar a oferta de GNV na região. Contudo, ainda não há data definida para a retomada. Leia na íntegra:
"Passo Fundo é um dos municípios em destaque no radar da companhia. Neste momento, a empresa está em tratativas com uma rede de postos na cidade para a retomada de oferta de GNV na região. Ainda não há data definida para essa retomada. A Sulgás também está em processo de análise mais ampla de mercado para implantação de rede estruturante em Passo Fundo, que poderá atender não apenas o mercado veicular, mas também segmentos da indústria, comércio e residências".
Motoristas veem incerteza
Enquanto isso, os motoristas encaram o futuro com incerteza, como revela Oilsom Carlos Tortelli, proprietário de uma oficina homologada pelo Inmetro para instalar os kits de GNV. Segundo ele, clientes que colocaram o kit aguardam as definições concretas sobre o tema. Caso o assunto não evolua, muitos pretendem desinstalar os equipamentos uma vez que condutores de carros adaptados para GNV têm custo anual de R$ 500 com o laudo de inspeção do Inmetro.
Tortelli trabalha no ramo há 17 anos, mas já não instala os kits há um bom tempo. Pelo contrário, faz apenas desinstalações. Por isso, ele já cogita fechar as portas do estabelecimento.
— Eu tiro de cinco a 20 kits por mês, ou seja, o trabalho inverteu. Não adianta eu ter a oferta do produto, mas não ter clientes. Estou homologado junto ao Inmetro até o fim do ano. Se não chegar (a oferta de GNV) até lá, vou partir para outra coisa e fechar oficina, o que é uma pena — lamentou.
Na manhã de terça-feira (12), o agricultor Amadeu Bernardo Lima da Luz, 58 anos, foi até a oficial de Tortelli para retirar o kit. Morador de Barracão, no norte gaúcho, ele decidiu ficar só com a gasolina por não ter locais para abastecer GNV na região.
— Como não tem, fica inviável manter o kit porque ocupa espaço no carro e tem a taxa anual. Então prefiro ficar só com a a gasolina — pontuou.