O município de Giruá, no noroeste gaúcho, decretou situação de emergência depois do temporal que causou uma morte e deixou 57 feridos na noite de quarta-feira (15). Segundo a prefeitura, pelo menos 110 residências foram danificadas em função da chuva e vendaval.
Uma jovem morreu após o temporal ter destruído um ginásio esportivo. A vítima foi identificada como Isabeli Soardi, de 26 anos. Segundo o Corpo de Bombeiros, ela foi atingida por uma estrutura de alvenaria. Uma pessoa segue internada em estado grave. Ela foi encaminhada para atendimento em Passo Fundo.
O corpo de Isabeli foi velado na tarde desta quinta (16), e o sepultamento aconteceu às 18h. Fisioterapeuta, ela jogava padel no Ginásio Splendor Sports e era conhecida por incentivar o estilo de vida saudável.
O empresário, José Paulo Taborda, estava no centro esportivo no momento que tudo aconteceu e relata os momentos de pânico que viveu.
— A gente começou a perceber que o telhado estava voando e todo mundo apavorado, gritando, correndo, buscando se salvar. Inacreditável o tamanho do estrago e como nós sobrevivemos. Foram cenas de terror que só quem estava lá sabe, foi muito difícil — contou Taborda.
Durante o temporal, o empresário chegou a ficar ferido.
— Tinha crianças, mulheres, adolescentes, enfim, pessoas de todas as idades. As quadras de padel são fechadas nas laterais com vidros, então tudo foi estourando, quebrando, estruturas metálicas, coberturas e tudo foi vindo abaixo. Eu fui rastejando por baixo dos aluzincos, por isso que eu me machuquei. Tivemos bastante medo do que estava acontecendo.
Moradores vizinhos também relataram momentos de terror durante a tempestade. A dona de casa Helena Medeiros Góes disse que ela e o marido se esconderam no banheiro quando ouviram o estrondo.
— Achei que a nossa casa tinha levantado, daí eu disse vamos lá (no banheiro), seja o que Deus quiser, porque é a parte mais segura da casa. Foi o que achamos pra se escapar. Depois, saímos para fora e vimos o terror. Era ambulância, Samu, carros, pessoas gritando na rua pedindo socorro, um clima de guerra.
Nesta quinta-feira eles consertaram o telhado de casa, que foi atingido pela cobertura do ginásio.
O bancário Nestor Schuster mora em frente ao Centro Esportivo e ajudou a chamar equipes de socorro.
— Faltou luz e, quando a gente conseguiu sair, não conseguia enxergar até aonde estava o estrago. A gente só viu que tinha telhas em cima da nossa casa. Começou a chover dentro e só aí fomos ver pra chamar socorro. A gente sabia que tinha um monte de pessoas lá dentro do ginásio. Em questão de minutos, os Bombeiros chegaram. Liguei para o Samu porque sabia que deveria ter vítimas.
Depois do temporal, a cidade teve problemas no fornecimento de energia elétrica e de serviços de telefonia e internet. Questionada, a RGE informou que está atendendo as ocorrências na área urbana e que a maioria dos estragos foram causados por galhos e objetos arremessados pelo vento. "A energia será totalmente restabelecida tão logo os consertos forem concluídos", diz a nota enviada pela empresa que atende o município. A companhia informou que 165 clientes estão sem energia na cidade.
Segundo os bombeiros 400 metros de lona foram entregues e não houve nenhum registro de dano no interior, confirmou prefeito.
Estrago foi causado por sistema de nuvens de tempestade, explica meteorologista
Como o Radar de Santiago não está em funcionamento, não há dados precisos sobre a origem e dados do vendaval e chuva de Giruá. No entanto, algumas evidências indicam que o município de 15,8 mil habitantes enfrentou um sistema convectivo de mesoescala — ou seja, o acúmulo de cumulonimbus, também conhecidas como nuvens de tempestade.
Ao observar as imagens de satélite, foi possível identificar a presença desse fenômeno em todos o norte e parte do noroeste do RS, como explicou o doutor em meteorologia e meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Daniel Caetano.
Os maiores danos, porém, são associados aos locais onde as cumulonimbus são mais intensas. Nesse caso, há ventos intensos em uma única direção e possibilidade de granizo.
— É comum que, ao olharmos para os danos que vemos naquelas imagens, imaginamos que se tratou de um tornado. Mas ao observar com mais atenção, podemos perceber que os escombros estão voltados para uma única direção. Quando é tornado, a tendência é que os estragos sejam "torcidos", como se houvesse um "giro" no que ficou — explicou Daniel Caetano, doutor em meteorologia e meteorologista da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Esse fenômeno, apesar de comum no norte e noroeste do RS, fica mais frequente durante os períodos de El Niño, em especial na primavera. E os estrondos e trovões fortes relatados pela população de Giruá têm relação com a tempestade causada pelo mesmo sistema convectivo de mesoescala.
— Nesses casos, as rajadas podem chegar a 100 km/h. Essas nuvens de tempestade se desenvolvem em regiões muito quentes e úmidas, como é o norte e noroeste gaúchos. Não é incomum, mas em primaveras de El Niño, são muito mais frequentes — pontuou.