Passo Fundo conheceu no último domingo seus 10 novos conselheiros tutelares. Os escolhidos assumirão o cargo no dia 10 de janeiro de 2024. Os mais votados nas duas microrregiões foram Alisson Pansera, da microrregião 1, e Stefani Gomes, da microrregião 2.
Além disso, guardam mais coisas em comum: os dois têm menos de 30 anos — Alisson tem 29 e Stefani 28, são naturais de Passo Fundo — e assumem o cargo pela primeira vez.
GZH conversou com os dois para conhecer suas trajetórias pessoais e profissionais, e os motivos que os fizeram concorrer ao Conselho Tutelar, órgão responsável por garantir a efetividade do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no município. Confira a seguir.
Quem é Alisson Pansera
Formado em Direito pela Universidade de Passo Fundo (UPF), Alisson tem especialização em processo civil. Atua na advocacia preventiva e em demandas judiciais nas áreas de direito do previdenciário e da saúde. Foi o mais votado na microrregião 1, com 425 votos.
Pansera concilia a advocacia com o trabalho de assistência jurídica em uma escola infantil. Também é voluntário no projeto Mãos Unidas, que busca recursos para possibilitar o desenvolvimento de famílias em vulnerabilidade social.
— O fato de eu ter contato com crianças na escola, embora não seja professor, mostrou como os adultos são tidos como exemplos para as crianças. Isso me coloca em uma posição de sentimento mais sensível, um olhar de contribuição com essas crianças que necessitam de um amparo maior — afirmou.
Quem é Stefani Gomes
Aos 28 anos, Stefani Gomes reuniu 602 votos para atuar como conselheira tutelar na microrregião 2 de Passo Fundo. Natural de Passo Fundo, é formada em Pedagogia pela UPF, tem especialização em educação especial pela Faculdade Ideau e gestão escolar pela Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS). Hoje, trabalha como professora da Apae em Passo Fundo.
Na vida pessoal, Stefani é casada e mãe dos pequenos Anthony, de sete anos, e Lyan, que nasceu um dia depois da eleição, na segunda-feira (2).
— Minhas experiências são vivenciadas na educação enquanto professora, as experiências do trabalho de base que realizo com os movimentos sociais. Acredito que conhecimento sem ação não gera resultado.
Por que escolheu ser conselheiro?
Alisson
— O desejo que me acendeu a disputar esse processo eleitoral foi o sentimento de impotência diante das negligências que vemos acontecendo aqui na cidade de Passo Fundo quanto aos direitos das crianças e adolescentes. Acredito que posso contribuir de forma mais efetiva para garantir esses direitos.
Stefani
— Escolhi ser conselheira tutelar pelos espaços das ocupações urbanas da cidade de Passo Fundo, pela atuação de pedagogia junto a Apae, pelas demandas e necessidades relatadas por pessoas próximas ao Conselho Tutelar e dificuldades enfrentadas pelas mulheres do coletivo Ocupar a qual pertenço.
Na sua avaliação, como é o cenário vivido por crianças e adolescentes hoje em Passo Fundo?
Alisson
— Hoje se percebe que as nossas crianças são carentes de afeto, atenção, muitos lares trocaram o contato visual e a participação pelas telas e isso é preocupante. Tem grande necessidade de um trabalho eficaz para combater esse malefício.
Stefani
— O cenário das infâncias em nossa cidade está oculto, defasado e com uma visão adultocêntrica da adolescência. Temos um título de cidade educadora, mas que ainda precisa ser pensado e feito para as infâncias e principalmente para aquelas que estão à margem, estão distantes do centro da cidade e muitas vezes criminalizadas. Passo Fundo precisa entender a criança e o adolescente como ser humano em desenvolvimento e que nós enquanto adultos somos o cérebro maduro e precisamos proporcionar infâncias, vivências e aprendizados humanizados na cidade. Defendendo os direitos das infâncias em todos os lugares.
Para você, qual deve ser o maior desafio do cargo?
Alisson
— Percebe-se que a grande dificuldade do conselho tutelar é trabalhar no preventivo, pela grande demanda de casos de negligência aos direitos das crianças e adolescentes. Acredito que o maior desafio será buscar maior reconhecimento ao Conselho Tutelar, para que possamos ter mais autonomia e possibilitar um trabalho eficaz de prevenção.
Stefani
— Penso que o maior desafio do cargo será quebrar as distorções e arbitrariedades que o órgão vem sofrendo. Além disso, é importante ampliar o diálogo e as ações do Conselho Tutelar junto a sociedade, romper o famoso "apaga incêndio" diário e trabalhar também na prevenção das violações. Penso em dialogar com o colegiado atual e pensar as ações que já estavam sendo feitas, que foram positivas e as que necessitam ser pensadas, também valorizando o trabalho feito pelos colegas até aqui. Sei que os desafios são imensos, mas que junto com a sociedade, o colegiado, a experiência dos colegas e os novos pensamentos acrescentados é possível realizar ações efetivas.
O que a comunidade pode esperar do seu trabalho?
Alisson
— A comunidade pode se sentir confiante e bem representada quanto à questão dos direitos das crianças e adolescentes. Eu não posso prometer a criação de políticas públicas, contudo farei o possível na busca pela efetividade do ECA, bem como pelo reconhecimento do Conselho Tutelar e trabalhos de prevenção.
Stefani
— Vencemos com um coletivo de 602 pessoas que acreditaram em mim, na esperança de novos jeitos de fazer acontecer, então o que podem esperar de mim é um processo humanizado, seriedade, escuta ativa, defesa do ECA e um olhar sensível para cada situação. Entrarei no Conselho Tutelar e “vestirei a camisa”, como costumam dizer, mas de mãos dadas com muitas pessoas para que de fato consigamos resultados positivos.
Quem mais foi eleito
Além de Stefani e Alisson, outros 18 conselheiros tutelares foram eleitos no pleito do último domingo (1), em Passo Fundo. São eles:
Microrregião 1
- Alisson Pansera: 425 votos
- Clédio Paties: 415 votos
- Professora Rosa: 377 votos
- Professora Guacira: 313 votos
- Claudia Borcioni: 300 votos
Suplentes
- Glauco Franco: 278 votos
- Prof. Adilson: 269 votos
- Bruna Simor: 250 votos
- Rodrigo Marques: 190 votos
- Jessica Cristina: 175 votos
Microrregião 2
- Stefani Gomes: 602 votos
- Sidnei Avila: 591 votos
- Cassia Gazzola: 476 votos
- Paula Dornelles: 399 votos
- Silvia Turello Schneider: 389 votos
Suplentes
- Aline Goelzer: 370 votos
- Professora Tere: 353 votos
- Julio Martins: 338 votos
- Tuany Rodrigues: 335 votos
- Eva Miranda: 245 votos
- Luciano Pavani: 239 votos
Para que serve o Conselho Tutelar
Quem for eleito para o Conselho Tutelar permanece no cargo por quatro anos (2024/2027). Eles têm como missão proteger e garantir os direitos de crianças e adolescentes na cidade.
— O conselheiro tutelar atua quando a família, o Estado e a sociedade não conseguiram cumprir a função protetiva. Então nesse momento é o conselheiro que protege as crianças e os adolescente — explica a assistente social da Secretaria de Cidadania e Assistência Social (Semcas) de Passo Fundo, Lilian Pfluck.
As vagas de conselheiro tutelar são para 40 horas semanais de jornada de trabalho, além de plantão de fim de semana, conforme escala. O salário para cada conselheiro tutelar é de R$ 5.274,82, além do acréscimo de auxílio alimentação de R$ 36,25 por dia útil de trabalho.