Sementes de mucuna, crotalária e feijão de porco são plantas que seriam utilizadas apenas como cobertura para a lavoura. Mas uma pesquisa inédita realizada pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), em Erechim, no norte do Estado, constatou algo mais importante: todas possuem um grande potencial para despoluir o solo da contaminação de herbicidas.
Em três anos de pesquisa, alunos do curso de Agronomia e professores plantaram as sementes em uma lavoura experimental da instituição. Os resultados agradaram, pois, quase 100% dos resíduos foram absorvidos.
Para o coordenador do estudo, professor Leandro Galon, a descoberta representa um ganho considerável nas trocas de cultura nas propriedades.
— Depois de colher a soja, o produtor semeia essas coberturas fitorremediadoras antes de semear outra cultura, como o trigo, por exemplo. Assim ele terá o solo muito mais preparado e limpo para a sua produção — explica.
O estudo se concentrou em dois herbicidas muito utilizados na região norte para o controle das ervas daninhas, o Diuron e o Sulfentrazone.
O processo é conhecido por fitorremediação: quando plantas são usadas como agentes de purificação de ambientes terrestres e aquáticos.
— Muitas dessas coberturas podem gerar produção de grãos ou sementes para o produtor ter mais uma fonte de renda. Outro ganho é que elas fixam nitrogênio do ar no solo — explica Galon.
Unir sustentabilidade e produtividade
Para constatar a ausência de herbicidas, duas espécies foram utilizadas pelos pesquisadores. Tanto o girassol como o sorgo funcionam como bioindicadores, ou seja, eles são utilizados para avaliar ou observar a saúde do ecossistema.
Os dois cresceram na área plantada com um bom desenvolvimento, o que não seria possível com a presença de algum resíduo no solo.
Douglas Haboski, bolsista da pesquisa, vê na descoberta uma oportunidade de levar os conhecimentos obtidos em sala de aula e também na prática para além dos muros da universidade.
— Muitas vezes o agricultor se encontra com um problema de herbicidas no solo. Então saber que existem plantas que podem extrair esses resíduos é um ganho até para as culturas subsequentes — explica o estudante do 9º semestre de Agronomia.
Cenário avaliado também pela estudante do 5º semestre, Eduarda Batistelli Giacomolli.
— É algo diferente e sustentável. A agricultura está cada vez mais se dirigindo para esse ramo de sustentabilidade. Por isso é muito importante a gente trazer isso para o dia a dia do estudante, para ele sair daqui preparado tanto na formação como para o mercado de trabalho — ressalta.
Agora o estudo deve ser testado em uma propriedade rural. Após as últimas análises, o material será publicado em uma revista científica.
GZH Passo Fundo
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