Uma audiência pública realizada nesta quarta-feira (21), na Câmara de Vereadores de Passo Fundo, no norte do Estado, debateu a situação da aldeia Gjo-Jur, umas das duas existentes no município.
A iniciativa foi proposta pelo Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas (Gesp), a partir de um estudo feito desde 2022 por meio de uma pesquisa in loco e um questionário. O objetivo era verificar a situação dos índios residentes no local, que fica em uma ocupação, atrás da estação rodoviária de Passo Fundo.
Foram pesquisadas informações como cidade de origem, povo, costumes, escolaridade, gênero, além de buscar compreender as necessidades da comunidade, conforme explicou a presidente do Gesp, Flávia Biondo:
— Estamos em contato desde o ano passado com a aldeia e, nos últimos meses, realizamos um questionário para levantar as principais reivindicações, como estão estruturados, quais suas condições, de onde vieram, entre outros temas. Dentro disso, também procuramos levantar as necessidades da aldeia, já constituída junto à Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas).
Segundo o estudo, atualmente há 80 indígenas, divididos em 18 moradias, sendo que apenas 54% delas possuem banheiro. Entre as principais demandas, estão: cercania da aldeia, segurança do espaço físico, saneamento básico, melhorias na escola, maior visibilidade do poder público municipal, respeito à cultura e aos costumes dos povos indígenas, além de representatividade nos espaços públicos com garantia de participação nos espaços de discussão.
Levantamento preliminar
Entre os dados apurados a partir do levantamento preliminar, estão as origens dos povos que residem no local, sendo 93,9% índios kaingang e quase 6,06% guaranis. Entre os moradores, 30% veio do município de Charrua, seguido de 27,7% de Tenente Portela e 15,15% de Ronda Alta.
São 42,3% mulheres e 57,6% homens, entre 14 e 63 anos. Deste total, 77% são alfabetizados. As primeiras famílias ocuparam a aldeia Goj-Jur em 2019, dentro do espaço urbano de Passo Fundo. A Escola Estadual Indígena de Ensino Fundamental Adalírio Lima Siqueira fica junto à aldeia e oferece o ensino da língua indígena, em conjunto com as disciplinas formais.
A coordenadora estadual da Funai, Maria Inês de Freitas, salientou que, nos últimos anos, os povos originários tiveram um déficit nas políticas públicas:
— Muitos entendem que as políticas públicas indígenas são somente um problema da Funai, mas esquecem que, se os indígenas têm o dever de votar, também devem ter seu direito assegurado como qualquer munícipe.
O cacique da aldeia Goj-Jur, Jocemar Mariano, disse que o momento é de extrema importância, dando visibilidade ao povo indígena e às suas demandas:
— Estamos aqui para buscar nossos direitos e não favores. Precisamos de apoio do poder públicos, dos vereadores, porque somos cidadãos como qualquer outro.
Jocemar explicou que, entre as principais demandas, está a questão do saneamento básico e da necessidade de melhorias no setor de habitação.
— Nós mesmos construímos nossas casas e a metade não tem nem banheiro, fossa séptica. Precisamos ser vistos e apoiados pelo poder público, prefeitura e pelos vereadores — destacou.
GZH Passo Fundo
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