O passo-fundense Daniel Confortin foi ordenado monge do budismo Soto Zen japonês há cinco anos, buscando dedicar a vida a esse ensinamento milenar e contribuir com a cultura de paz e diversidade religiosa, na região norte do Estado.
Mas Dan, como é conhecido pelos amigos, budistas e alunos, está longe de ser uma figura caricata do budismo, um ser inatingível. Prestes a completar 43 anos, é um homem de costumes simples, risonho e dedicado à família, ao trabalho e ao budismo, mostrando que a rotina de um monge é uma escolha de vida e como ele mesmo diz: ‘frustrando às expectativas de santidade’, projetadas a um praticante budista ordenado.
Daniel nasceu em 10 de julho de 1980, tem um irmão, Lucas. É filho de um bancário, Pedro Heitor e da empresária, Teresinha Confortin.
Atualmente é coordenador do curso de design gráfico na Universidade de Passo Fundo (UPF) e professor de filosofia na Escola St. Patrick. É casado com Alana Lourenzi e pai da Alma.
Até a adolescência estudou em Passo Fundo, fez toda sua formação do ensino Fundamental ao ensino Médio na Escola Estadual Nicolau de Araújo Vergueiro. A graduação em Design foi realizada em Carazinho, a pós-graduação em Caxias do Sul. Fez estudos artísticos na Argentina, Nepal e Índia. Foi aluno do monastério Kanying Shedrub Ling em Kathmandu e concluiu o mestrado no Rangjung Yeshe Institute, em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Educação da UPF em 2016.
Primeiro contato com o Budismo
Seu primeiro contato com o Budismo foi há 25 anos no Planeta Atlântida de 98, quando viu o mestre Chagdud Tulku Rinpoche (Lama que fundou o templo em Três Coroas, no RS), no palco, silenciando uma multidão de jovens enlouquecidos.
Desde lá vem fazendo retiros e estudando na América Latina e na Ásia.
— Decidi seguir com a prática em função de questionamentos pessoais e perdas. À medida que a vida vai passando vamos percebendo a necessidade de um caminho espiritual autêntico e que possa dar sentido para a existência.
Experiências na Índia e no Nepal
Daniel teve várias passagens por Índia e Nepal durante quatro anos, entre viagens e estudos.
— Foi uma experiência que me ‘virou do avesso’, não em função da peregrinação religiosa, mas do povo indiano e nepalês. Nos últimos meses de Nepal sobrevivi ao terremoto de 2015 e resolvi voltar para o Brasil. Tudo o que aprendi nos anos de estudo em monastérios budistas formaram a base para a criação da Comunidade Budista Shantideva que hoje tem um templo e atividades regulares na cidade de Mato Castelhano.
Ordenação como monge Soto Zen japonês
Daniel foi ordenado em Porto Alegre, com a monja Isshin Sensei, do budismo Soto Zen japonês, em 2018. Conta que a decisão de dedicar a vida para esse ensinamento milenar foi para poder contribuir com a cultura de paz e diversidade religiosa na região. Para ele, viver e se dedicar à filosofia budista foi mais que conhecimento, trouxe hábitos e experiências.
— Creio que conhecer algo intelectualmente, nesse caso, não é suficiente. É necessário que o Dharma de Buddha faça morada nas pequenas coisas do cotidiano através da atenção plena. Acredito que a meditação formal é importante, mas além disso, nos relacionamentos, no trabalho, nas dificuldades. É aí que uma mente tranquila e com plena atenção pode fazer muita diferença. Especialmente nos momentos críticos da vida, quando estamos doentes ou perdemos alguém querido, acima de tudo para nos trazer uma vida plena e uma morte tranquila.
Atualmente o monge Daiho é aluno de Daniel Terragno Roshi Terragno Roshi, um mestre laico que vive em Sebastopol CA - EUA e oferece retiros na comunidade.
O monge que frustrou as expectativas de santidade
Questionado sobre o que mudou em si mesmo depois de decidir ser budista, ele disse que aceitou sua humanidade, deixou de buscar perfeição, reconheceu a angústia que permeia a vida humana, a impermanência de todas as coisas.
— Ao mesmo tempo percebi a possibilidade de encontrar felicidade em cada pequeno momento, através daquilo que chamamos de ‘natureza iluminada’ da mente. Uma amiga um dia me disse ‘você é o único monge possível’, de certa forma me considero herdeiro de um grupo de praticantes budistas pouco convencionais, um monge errado e ‘desgraçado’, no sentido de frustrar as expectativas de santidade que são projetadas em direção a um praticante budista ordenado.
Comunidade Shantideva
Foi através de Daniel que muitas pessoas conheceram a prática budista e se envolveram nessa doutrina filosófica e espiritual na região norte do Estado. Ele é um dos idealizadores da Comunidade Budista Shantideva, criada em Passo Fundo, a partir de uma experiência histórica de praticantes desde os anos de 1990, que se institucionalizou em 2015, contando com cerca de 40 membros e outras dezenas de praticantes eventuais. Uma característica da comunidade é o não sectarismo, ou seja, acolhe várias tradições budistas, entre elas o Zen, Budismo Tibetano, Terra Pura. O que essas tradições têm em comum é o reconhecimento dos ensinamentos fundamentais de Buddha, transmitidos oralmente há mais de 2.600 anos na Índia.
A partir da Comunidade, o grupo construiu o Templo Águas da Compaixão, localizado em uma propriedade no município de Mato Castelhano. Depois da instalação do Templo, a comunidade Shantideva viu crescer em 40% o número de interessados nos ensinamentos budistas.
— O grande objetivo é oferecer o budismo como uma alternativa de prática religiosa que promove diversidade, diálogo e paz, para além dos fanatismos.
GZH Passo Fundo
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