No ano de 1940, o então prefeito de Palmeira das Missões, Felício Augusto de Almeida, escreveu em seu relatório de início do mandato que "Nesse primeiro contacto com o povo de Palmeira, tive oportunidade de vêr e sentir a sua disposição para o início de uma nova éra de trabalho". Este relato está presente em um dos documentos encontrados em uma cápsula do tempo. O objeto estava enterrado no Largo Alfredo Westphalen.
A localização do material aconteceu ainda em novembro de 2022, quando reformas eram feitas no Largo. Trabalhadores estavam realizando ações no busto do Dr. Alfredo Westphalen, quando encontraram a pasta enterrada em um espaço na torre da estátua.
O vice-prefeito de Palmeira das Missões, Régis de Lima Lorenzoni, destaca que a descoberta foi uma surpresa.
— Não havia indícios da existência da cápsula do tempo. (...) Foi um achado extraordinário pelos servidores. Ali tem vários documentos que narram a trajetória do Dr. Alfredo Westphalen.
Ele também frisa que na cápsula estavam diversos jornais que repercutiam notícias de Palmeira das Missões. O fato é exaltado uma vez que os periódicos lotavam páginas com os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial.
Itens na cápsula do tempo
Dentro da cápsula estavam diversos documentos como contratos, notas de compra, convites, discursos, relatórios, poema escrito por Rosária Bueno, jornais da época falando sobre acontecimentos em Palmeira das Missões e até moedas de 200 e 300 Reis. Toda papelada é dos anos de 1940, 1941 e 1942, com exceção de duas páginas de um relatório de 1930.
O vice-prefeito destacou que um dos documentos mostra o discurso de Geny Lima, uma mulher que representava a Sociedade 7 de Setembro, organização da comunidade negra em Palmeira das Missões. A fala aconteceu em 1941, na inauguração do busto do Dr. Alfredo Westphalen, momento de grande importância para o município. Em sua fala, Geny exaltou Westphalen.
— Os componentes desta classe devem á Ele quasi que a vida, porque tanto nas aflições quanto nos prazeres viam o semblante altivo bondoso e caridoso de Alfredo Westphalen.
Historiador cuidou da documentação
Os papéis foram encaminhados a um historiador de Palmeira das Missões para higienização e digitalização. Depois dos processos de restauração, o material físico será levado ao arquivo municipal.
Áxsel de Oliveira foi o responsável pelo restauro. Segundo ele, primeiro ele tirou todos papeis de dentro da cápsula, e os deixou dias secando para então poder manipulá-los.
— Eles estavam muito úmidos, enferrujados, o papel estava com mofo, precisou de alguns dias para eles secarem para então dar começo aos trabalhos.
Depois, Oliveira iniciou o processo de higienização, para conter o crescimento dos fungos. Com pincéis, ele fez o delicado trabalho sem prejudicar os documentos. Por fim, foi possível fazer a digitalização dos documentos que, em breve, poderão ser acessados pelo público.
— Como historiador, é um desafio a minha honra. Pois são documentos que mostram uma parte da história do município, de um dos principais agentes que fizeram parte do município naquele período. (...) Era algo que precisava ser feito com o maior cuidado possível, com maior profissionalismo possível, para que estes documentos não se perdessem — conta Oliveira.
Palmeira das Missões em 1940
O relatório com dados do município no ano de 1940 mostra como Palmeira das Missões era muito diferente do município atual, mas ainda assim, apresentava semelhanças.
População reduziu pela metade
Um dos primeiros pontos é a diferença populacional. Diferentemente do esperado, a quantidade de habitantes diminuiu quase pela metade. Dados dá época dão conta de que eram 68.375 moradores e, em 2021, de acordo com o IBGE, eram 32.967 munícipes. A redução aconteceu, pois, muitos dos então distritos de Palmeira das Missões, atualmente são municípios.
Território
Na época, conforme assinado por Felício Augusto de Almeida no relatório, Palmeira das Missões era o maior município do Estado em extensão territorial, com 8.700 km². Atualmente, o IBGE aponta que o município é o 46º, com 1.421km².
Energia elétrica
Naquela época, dos 12 distritos de Palmeira das Missões, nove tinham energia elétrica. As usinas em sua maioria eram de locomóvel a vapor e de propriedade particular. Naquela época, apenas duas das usinas tinham autorização do município para funcionamento e fornecimento de energia para iluminação pública.
Saúde
Naquele ano de 1940, a saúde pública foi considerada boa, com boa disseminação de vacina da febre tifoide. Mas, "pequenos surtos isolados de varíola em Redanção - 6º distrito - veríficados em novembro último". Para solucionar o caso, a prefeitura distribuiu mais de mil vacinas.
Na região dos distritos de Frederico Westphalen e Fortaleza foram registrados casos de Tracoma. Esta situação foi levada ao conhecimento
Início do serviço de retirada de lixo
Foi naquele ano de 1940 que o serviço de retirada do lixo do perímetro urbano começou. No relatório, Almeida defendeu que a medida "vem prestando reais benefícios à salubridade do lugar". Diariamente o veículo passava pelas principais ruas para recolher os resíduos.
Prefeito busca construção de presídio
No relatório, o prefeito Almeida expõe a necessidade de o município construir um presídio municipal. A cadeia civil não comportava o número de detidos e o efetivo da polícia (área de trabalho e alojamento). Por isso, o gestor aponta que com o saldo nas contas do município em 1940 e a possibilidade de um empréstimo, era possível realizar uma concorrência. A planta previa cinco celas.
Poço artesiano
Naquele ano, em agosto, foi lançado o edital nº25. Este, previa a construção de um poço artesiano na Praça Júlio de Castilhos, região central da cidade. A nova obra permitiria o abastecimento de boa parte do meio urbano e facilitaria a irrigação das plantas das proximidades.
Educação
No município, em 1940, havia um total de 91 escolas. Destas, segundo o relatório, 86 estavam sem "edificações próprias e sem o necessário aparelhamento". O prefeito exaltou o "espírito estoico e laborioso" dos professores que seguiam lecionando em meio a situações complicadas.
Em relação aos professores, naquele ano o prefeito tomou medidas para fazer uma reestruturação no quadro do magistério municipal. Segundo ele, não se obedecia a uma organização eficiente, e os vencimentos dos funcionários não seguiam um padrão. Inclusive, foi feita redução dos salários para evitar desigualdades.
Para criar uma organização entre os professores, uma vez que alguns nem sequer tinham título algum de nomeação, a gestão municipal aplicou provas de capacidade. Ao final de 1940, com as mudanças propostas, eram 63 professores atuando em 62 escolas.
Agricultura e pecuária
Ao fim do documento, a agricultura e a pecuária são abordadas. O relatório aponta que a gestão municipal vê que o Estado deveria auxiliar os produtores rurais para ter o melhor proveito das culturas plantadas e animais criados.
Com um amplo território, Palmeira das Missões tinha produtores das mais variadas culturas. O trigo, na época, era o carro chefe. A soja, que hoje é a plantação dominante, nem sequer entra no relatório. A erva-mate também era das principais culturas do município.
Na área do Vale do Uruguai, por exemplo, plantava-se o algodão, fumo, bananeira, mandioca. Na zona central, eram plantados trigo, batatas inglesas, feijão, arroz de sanga, milho, aveia, cevada e alfafa.
O milho também era plantado em grande parte do território. Porém, a qualidade não era de exportação, por isso, seu destino era majoritariamente a alimentação de animais.
O relatório apontou que as ovelhas, bovinos e equinos estavam melhorando com a introdução de novas raças europeias e americanas.
GZH Passo Fundo
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