Valentina Rocha Gil tinha apenas oito anos quando pilotou um kart pela primeira vez. Segundo ela, foi amor à primeira vista.
— Foi mágico, eu não queria mais sair. Foi uma coisa impressionante pra mim, fiquei muito feliz — lembra.
Hoje com 15, a jovem nascida em Passo Fundo fez do automobilismo um estilo de vida. Os treinos acontecem todos os finais de semana no Kart Clube do município e costumam durar o dia inteiro — tudo, claro, conciliado com os estudos.
— É um pouco difícil conciliar tudo porque, na maioria das vezes, quando, a gente vai para as corridas, vamos na quinta ou na sexta e sempre tem prova. Então eu tenho que adiantar as provas ou deixar pra fazer outra semana. Mas no final dá tudo certo — relata.
Com tanta dedicação, Valentina coleciona diversas premiações no kart. Em 2020 foi campeã do Campeonato Pelotense na categoria cadete. No mesmo ano veio o quarto lugar no Gaúcho da modalidade e, em 2021, uma segunda colocação na Copa RS, na categoria F4 Junior.
Atualmente, a jovem piloto é a única menina entre os competidores da categoria F4 Graduados, a partir dos 14 anos.
Inspiração de berço
Valentina é acompanhada de perto pelo pai, Rubian Trindade Gil, 45. Ele e a mãe da menina se conheceram dentro de um carro de Rally. Todos os recursos da família vão para o sonho da filha.
Gil divide o tempo entre o trabalho em uma fábrica de imóveis com os treinos da filha.
— Eu sempre fico mais nervoso na largada, é ali onde tudo acontece. Já aconteceu de ela perder a corrida na largada mesmo. Fico nervoso, mas orgulhoso. Ver ela ali, minha menina, batendo pneu contra pneu diante dos meninos, não tem como não se emocionar — disse.
Apesar do sucesso da filha, Gil explica que nada substitui os estudos.
— É o nosso combinado: se for bem nas aulas, tem kart. Agora, se as notas não forem boas, não tem kart. Mas ela sempre foi muito regrada, a melhor da turma — ressalta.
Para a família, hoje os maiores desafios da carreira de Valentina são os resultados. Porém, a modalidade necessita de recursos altos por equipe. No caso da menina, a cada prova são gastos pelo menos R$ 5 mil, o que vem sendo cada vez mais difícil, segundo o pai:
— O sonho dela é chegar um dia a um Stock Car, mas claro que isso envolve muito dinheiro. Mas nós vamos sonhando. Tropeçando ali, caindo aqui, mas vamos levando. Temos certeza que vêm coisas boas ai.
“Tile”, o melhor amigo
A jovem piloto não está sozinha nessa jornada. Junto dos boxes, ela conta com um fiel escudeiro: Moacir Paulo Saggiorato. Ou melhor: “Tile”, como é conhecido.
Tile hoje é uma referência do esporte na região. São mais de 50 anos de experiência nos quais o mecânico acompanha de perto os pilotos. Nada passa despercebido por ele no kart da Valentina, seja um ronco diferente ou uma peça frouxa.
— Às vezes temos umas pequenas discussões, mas é para o bem dela (Valentina) (risos). Ela me passa todas as informações do carro e é sempre muito precisa. Quase que perfeita. Ela gosta e sabe muito sobre o kart — disse.
Para o mecânico, os próximos anos de corridas da menina prometem ser de grandes conquistas.
— Capacidade ela tem. E digo mais: o piloto que passa pela minha mão, eu assino embaixo — ressalta.
Neste ano, Valentina ainda deve competir em Santa Catarina e São Paulo. Nesta última, a menina ainda depende de ajuda e patrocínios, já que trata-se de uma etapa do brasileiro da modalidade.
— Eu fico muito orgulhosa de poder representar minha família e trazer de volta uma paixão que sempre foi familiar. Agora é focar nos próximos resultados, e, quem sabe, pensar no ano que vem — disse Valentina.