Todo clube de futebol tem um jogador para chamar de ídolo. Na história centenária do Ypiranga Futebol Clube não poderia ser diferente. Mário Mujica da Silva, ou apenas "Mujica", é reconhecido por muitos torcedores auriverdes como o maior nome que já passou pelo time de Erechim que, no próximo domingo, dia 18 de agosto, completa 100 anos de fundação.
Hoje com 79 anos, o ex-zagueiro se tornou um símbolo do Canarinho na década de 1970. Em entrevista para GZH Passo Fundo, ele relembrou sua trajetória vitoriosa pelo clube.
O início
Nascido em 1º de maio de 1945, Mujica iniciou sua carreira aos 18 anos no Esporte Clube Ferro Carril, de Uruguaiana, sua cidade natal. Depois, teve uma breve passagem pelo rival, o Esporte Clube Uruguaiana, até ser convidado por Pedruca, seu conterrâneo e jogador do Ypiranga, para se juntar ao elenco do Canarinho, no final de 1967.
O convite, na época, foi uma honra. Isso porque naquele ano o Ypiranga havia conquistado seu primeiro título profissional, a Divisão de Acesso, e em 1968 jogaria pela primeira vez a elite do futebol gaúcho.
— O Pedruca chegou até mim e disse que o Ypiranga iria me contratar. Alguns dias depois, um diretor me procurou e negociou a minha vinda para Erechim. Fiquei no clube de janeiro de 1968 até 1977, quando desfiliou-se da Federação Gaúcha e encerrou suas atividades por cinco anos. Tenho recordações muito boas, com estádios cheios e muita proximidade com os torcedores — relembrou Mujica, que está em um seleto grupo de jogadores que atuou nos dois estádios construídos pelo Ypiranga. O antigo Estádio da Montanha e o atual Colosso da Lagoa.
Experiência de vestir o manto verde e amarelo
O Ypiranga não possui nenhum acervo que conste dados do jogador, visto que a sede do clube sofreu com incêndios duas vezes e todos os materiais foram consumidos pelo fogo. Assim, não há como confirmar os números de Mujica, mas ele relembra com carinho do tempo em que defendeu o Canarinho.
— Todas as minhas recordações com o Ypiranga são muito boas, apesar de que naquela época o clube enfrentava alguns problemas financeiros e eu como capitão, sempre precisava intermediar com o restante dos jogadores. Mas apesar disso, todos sempre honraram sua atividades e quando entravam em campo, faziam o máximo para que saíssemos vencedores.
— Um momento marcante, que posso descrever muito bem, foi um confronto contra o Internacional aqui no Colosso da Lagoa, no dia 18 de agosto de 1974, quando o clube completou seus 50 anos. Mais de 30 mil pessoas torcendo para nós, o maior público já registrado aqui. Aquilo, na época, foi histórico, assim como são os confrontos de hoje em dia. Então se eu pudesse jogar aqui novamente e viver tudo isso outra vez, eu com certeza voltaria — frisou.
Aposentadoria e ajuda na retomada do Ypiranga
Com o fechamento do clube em 1977, Mujica transferiu-se ao Gaúcho de Passo Fundo, considerado até hoje o maior rival do Ypiranga. No entanto, ele permaneceu com suas raízes em Erechim e todos os dias ia e voltava dos treinos na cidade vizinha, até se aposentar do futebol profissional.
Mesmo aposentado, Mujica ajudou na reconstrução do Ypiranga, em 1981. Sob comando de Pedruca, antigo companheiro de equipe e amigo pessoal, ele jogava os campeonatos municipais e regionais, de forma amadora, visto o apreço criado pelo time de Erechim. No ano seguinte, o clube voltou a disputar a segunda divisão estadual e o ex-zagueiro seguiu na torcida pelo Canarinho.
— Depois que eu parei de jogar, me tornei um torcedor do Ypiranga e frequentador assíduo do Estádio Colosso da Lagoa — destacou.
Centenário
Mujica é humilde ao ser questionado sobre seu lugar na história centenária do Ypiranga e ressalta que torce muito por novos momentos históricos para a Equipe de Erechim.
— Ao meu lado, tive muitos companheiros marcantes e que ajudaram o clube a se tornar o que é hoje. Fico muito feliz em ter esse reconhecimento por parte da direção e também dos torcedores mais novos, que identificam tudo o que fiz no passado, até porque depois que parei de jogar em definitivo, escolhi Erechim para ser minha cidade natal e sigo acompanhando os jogos, faça chuva ou sol. Ver o clube no patamar que está hoje, sem dúvidas, é um motivo de muito orgulho. A oportunidade de estarmos perto de uma Série B é recompensador se analisarmos tudo o que foi construído desde o passado até agora, onde ninguém desistiu e insistiu no clube — concluiu.