Mesmo com redução na taxa de juros pelo Banco Central, fixada em 10,5% no mês passado, empresários de Passo Fundo ainda não viram baixar o valor das suas dívidas. São 8,7 mil empresas inadimplentes na cidade, cada uma com dívida média de R$ 24,7 mil até março, total que chega a R$ 216 milhões — aumento de 20% em um ano, conforme dados do Serasa.
O alto endividamento é uma consequência da flutuação recente da Selic — taxa básica de juros da economia, que influencia outras taxas de juros do país —, que chegou a 13,75% no mês de junho. Com juros mais altos, empresas que fizeram empréstimos ou financiamentos tiveram dificuldade em arcar com os custos, como explicou o economista e professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Julcemar Zilli.
— As empresas passaram a não conseguir pagar parte, ou integralmente, suas dívidas. Assim, aumentou o número de empresas inadimplentes e também o valor devido. Em um ano, o total de dívidas negativadas saltou de R$ 180 milhões para R$ 216 milhões, uma diferença de R$ 36 milhões — observou.
Conforme o Serasa, também é possível observar aumento de 15% no valor individual de cada cobrança. Se em março de 2023 a conta era de R$ 2.133, hoje chega a R$ 2.462. Na prática, quem deixou o débito atrasar um ano, vai pagar cerca de R$ 330 a mais. Além disso, cada CNPJ inadimplente contabiliza em média 10 dívidas em aberto, montante que se mantém desde 2022.
— Passo Fundo tem cerca de 25% das empresas inadimplentes. Embora a gente não consiga saber o porte dessas empresas, é um número alto. Se aproxima da faixa de inadimplência das pessoas físicas, em que o percentual gira em torno de 33% — acrescenta Zilli.
Renegociação
A solução mais adequada para quem tem dívidas é obter uma renegociação. A decisão de buscar a readequação das condições de pagamento e até uma possível redução no valor da dívida beneficia o credor e o devedor, aponta o especialista.
— O empresário precisa se colocar à disposição pra fazer a negociação, expor a sua situação. Essas renegociações envolvem a dedução de taxas de juros e o parcelamento desses valores, isso tudo ajuda as empresas a ficarem adimplentes — orientou Zilli.
Ficar com as contas no azul pode melhorar a condição da empresa na busca por crédito, seja para aprimorar a tecnologia do negócio ou investir em mão de obra, por exemplo. Porém, em casos extremos, empreendimentos que não conseguem dar a volta podem buscar uma recuperação judicial.
— Este é o último recurso, que acontece quando há uma dívida maior do que o patrimônio da empresa. Mas, para ter a recuperação não basta querer, é preciso que haja autorização judicial e, a partir disso, a empresa ganha um tempo para se reestabelecer no mercado — acrescenta.
Uma alternativa para os microempreendedores e pequenos empresários é renegociar pelo programa Desenrola Pequenas Empresas, lançado pelo governo federal e que está em execução há um mês. Os descontos podem chegar a 95%. Até agora, R$ 860 milhões em dívidas já foram renegociadas em todo o Brasil.