Há 100 anos, Passo Fundo estava envolvida em um conflito que ficou conhecido não somente pelos seus desdobramentos históricos, mas também por ter sido palco do primeiro registro em vídeo do município. A Revolução de 1923, que é tema da Semana Farroupilha deste ano, aconteceu entre janeiro e novembro daquele ano em diversos locais do Estado — e Passo Fundo chegou a ficar nove dias em estado de sítio, quando ninguém saía ou entrava na cidade sem autorização.
Tudo começou com insatisfações crescentes, em âmbito nacional e estadual, conforme conta o presidente do Instituto Histórico de Passo Fundo (IHPF), Djiovan Carvalho. Os desagrados perpassavam, principalmente, pela política do Café com Leite, que norteava o país à época, e também pelo mandato do governador do RS, Borges de Medeiros, que já estava há uma década no poder.
— Para concorrer com Medeiros, a oposição lança o candidato Assis Brasil com ampla campanha de divulgação, mas isso não foi suficiente. Com a reeleição, um advogado com escritório em Passo Fundo articula um movimento em Carazinho para tentar uma intervenção nacional contra o governador — explica Carvalho.
Mesmo o movimento armado não foi o bastante para chamar a atenção do governo federal, mas o grupo toma Carazinho, à época pertencente a Passo Fundo, e nomeia o local como "Assisópolis", em homenagem ao candidato derrotado.
Resistência em Passo Fundo
Os revolucionários tentam avançar sobre Passo Fundo, mas o intendente Nicolau Vergueiro organiza uma resistência com mais pessoas da Região Norte, em defesa da cidade. A movimentação das tropas é o berço das primeiras imagens em vídeo do município, registradas por Benjamin Camozato.
O cerco montado por Vergueiro é bem-sucedido e, durante nove dias, os trens param de circular na cidade. São interrompidas não só as viagens, mas também o fluxo normal de alimentos, produtos e, inclusive, da imprensa.
— Há uma lacuna histórica desse ano na região. O que temos são registros no jornal A Federação, em Porto Alegre, mas daqui não temos. Além dos dias sitiados, os reflexos aconteceram ao longo do ano todo, então há um vazio de informações — pontua o presidente do IHPF.
Veja imagens da Revolução de 1923 em Passo Fundo
Desdobramentos
Até o fim de 1923, outros conflitos explodem em demais cidades gaúchas, o que leva o governo federal a enviar o ministro da Guerra, Setembrino de Camargo, para firmar um acordo. No mês de outubro, em Passo Fundo, Camargo inaugura o quartel do Exército e depois segue à Porto Alegre para efetivar uma negociação.
Em novembro, o conflito se encerra com a conquista de concessões, como a impossibilidade de reeleição de Borges de Medeiros e a eleição direta de um vice-governador, sem determinação do governador.
Apesar de armada, a Revolução não foi violenta como a Guerra dos Farrapos, de 1835, ou como a Revolução Federalista, entre 1893 e 1895 — e um dos diferenciais fica por conta da riqueza de imagens, em vídeo e fotos, que, no caso dos outros dois fatos históricos, são escassos.
Exposição sobre a Revolução de 1923 em Passo Fundo
O Instituto Histórico promove a exposição A Última Guerra "à Gaúcha": 100 anos da Revolução de 1923, com o acervo completo dos registros que remontam à época do fato. A entrada é gratuita. Confira a programação:
- O que: Exposição "A Última Guerra 'à Gaúcha': 100 anos da Revolução de 1923"
- Quando: 1º a 30 de setembro
- Onde: Galeria Estação da Arte (no prédio da Gare Estação Gastronômica, em Passo Fundo)
- Horário: é possível agendar visitas durante a semana. Nos sábados e domingos, o local fica aberto das 16h às 19h.